O Ministério das Relações Exteriores do Brasil criticou na última sexta-feira (5) a recente sugestão de dois ministros de Israel, segundo os quais cidadãos palestinos deveriam ser obrigados a deixar a Faixa de Gaza e migrar para outros países.
“O governo brasileiro tomou conhecimento, com preocupação, de recentes declarações de autoridades do governo de Israel que desejam promover a emigração da população palestina da Faixa de Gaza para outros países, assim como o restabelecimento de assentamentos israelenses naquele território”, disse o Itamaraty em comunicado.
Com a manifestação de sua diplomacia, o Brasil se junta a outras nações que criticaram Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, dois ministros de extrema direita do governo de Benjamin Netanyah, por defenderem o reassentamento de cidadãos palestinos fora de Gaza.
O governo brasileiro também afirmou que, “ao proporem medidas que constituem violações do Direito Internacional, declarações dessa gravidade aprofundam tensões e prejudicam as perspectivas de alcançar a paz na região.”
E acrescentou: “O Brasil reitera a defesa da solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.”
A manifestação dos ministros já havia sido rebatida também pelo Departamento de Estado norte-americano, em comunicado publicado no dia 2 de janeiro. Na oportunidade, Washington também disse que a solução de dois estados é a melhor alternativa, afirmando que “Gaza é terra palestina e continuará a ser terra palestina.”
“Os Estados Unidos rejeitam as recentes declarações dos ministros israelenses Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, que defendem o reassentamento dos palestinos fora de Gaza. Esta retórica é inflamatória e irresponsável”, disse a diplomacia dos EUA. “O governo de Israel, incluindo o primeiro-ministro, nos disse repetida e consistentemente que tais declarações não refletem a política do governo israelense. Eles deveriam parar imediatamente.”
Ben-Gvir não recebeu bem o posicionamento de Washington e contra-atacou através da rede social X, antigo Twitter, fazendo referência à influência do governo norte-americano sobre Israel.
“Agradeço muito os Estados Unidos da América. Mas, com todo o respeito, não somos mais uma estrela na bandeira americana”, disse ele. “Os Estados Unidos são o nosso melhor amigo, mas antes de tudo faremos o que for melhor para o Estado de Israel: a migração de centenas de milhares de Gaza permitirá que os residentes do enclave voltem para casa e vivam em segurança e protejam os soldados das IDF (Forças de Defesa de Israel, da sigla em inglês).”
מעריך מאוד את ארצות הברית של אמריקה אבל עם כל הכבוד אנחנו לא עוד כוכב בדגל האמריקאי. ארצות הברית היא ידידתנו הטובה אך לפני הכל נעשה מה שטוב למדינת ישראל: הגירת מאות אלפים מעזה תאפשר לתושבי העוטף לחזור הביתה ולחיות בביטחון ותשמור על חיילי צה"ל.
— איתמר בן גביר (@itamarbengvir) January 2, 2024
Ocidente contra Israel
A crítica aos ministros, entretanto, não foi isolada. Teve o apoio de aliados de Washington como França e Alemanha, de acordo com o jornal The Times of Israel. Paris instou Israel a “se abster de tais declarações provocativas” e destacou que “a transferência forçada de populações constitui uma violação grave do direito internacional”, tomando como base a Convenção de Genebra e o Estatuto de Roma.
“Não cabe ao governo israelense decidir onde os palestinos devem viver nas suas terras. O futuro da Faixa de Gaza e dos seus habitantes fará parte de um Estado palestino unificado que viva em paz e segurança ao lado de Israel”, disse o Ministério das Relações Exteriores francês.
Já Berlim falou em nome dos parceiros do G7, grupo das democracias mais industrializadas do mundo, afirmando que a posição dos membros é a de que “não deve haver expulsão dos palestinos de Gaza, não deve haver redução territorial da Faixa de Gaza.” Igualmente concluiu que “uma solução de dois Estados continua a ser o único modelo sustentável para israelitas e palestinianos viverem juntos pacificamente.”