China vence a queda de braço com os EUA e veta Taiwan em reunião da OMS

Segunda maior financiadora da OMS, Beijing veta a presença da ilha no evento anual como parte da campanha para isolá-la diplomaticamente

Taiwan não recebeu um convite para participar da a Assembleia Mundial da Saúde (WHA, na sigla em inglês), evento anual da Organização Mundial de Saúde (OMS) que acontece desde o domingo (21) e vai até o dia 30 de maio em Genebra, na Suíça. Trata-se de uma vitória diplomática da China frente aos EUA, que pretendiam ter os taiwaneses como convidados. As informações são da agência Reuters.

Para vetar a presença taiwanesa, a China contou com o apoio do Paquistão, que também se manifestou contra o convite.

Taipé condenou a decisão, classificada como “desprezível”. “Apenas o governo democraticamente eleito de Taiwan pode representar os 23 milhões de taiwaneses na OMS e outras organizações internacionais e proteger a saúde e os direitos humanos do povo taiwanês”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da ilha.

Prédio da Organização Mundial de Saúde em Genebra, Suíça (Foto: OMS/Flickr)

Beijing, pro sua vez, manifestou satisfação com a decisão. “Isso mostra plenamente que o princípio de ‘Uma Só China’ é a aspiração do povo e a tendência dos tempos na comunidade internacional e não pode ser desafiado de forma alguma”, disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado.

No texto, o governo chinês ainda se dirigiu a Washington. “A China também pede a certos países que não finjam confusão, parem de politizar a questão da saúde, parem de interferir nos assuntos internos da China sob o pretexto da questão de Taiwan e parem com a prática errônea de usar Taiwan para controlar a China”, disse o ministério.

Segunda maior financiadora da OMS no ano passado, a China desde 2017 bloqueia a presença de representantes taiwaneses na Assembleia. É parte de sua campanha global para isolar diplomaticamente a ilha, enfraquecendo suas relações exteriores numa tentativa de subjugá-la.

Já a campanha norte-americana junto à OMS para inclusão de Taiwan foi mais um tentativa de inserir a ilha autogovernada na comunidade internacional, em meio à ameaça crescente de uma invasão chinesa.

Embora tenha aderido oficialmente ao princípio de “Uma Só China”, que reconhece Taiwan como uma das províncias chinesas, Washington tem se aproximado cada vez mais do governo taiwanês, questão central para o recente aumento da tensão entre chineses e norte-americanos.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto de 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro do ano passado “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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