A demissão em massa de funcionários do governo dos EUA, promovida pela reestruturação do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) liderado por Elon Musk, gerou alerta entre especialistas em segurança nacional. A saída abrupta de milhares de trabalhadores com acesso a informações confidenciais os torna potenciais alvos de recrutamento por parte de adversários estrangeiros como Rússia e China, conforme relato da agência Associated Press (AP).
“Essa informação é extremamente valiosa, e não deveria ser surpresa que Rússia e China, assim como organizações criminosas, estejam agressivamente recrutando funcionários do governo”, afirmou Theresa Payton, ex-diretora de informações da Casa Branca sob George W. Bush e atual executiva de uma firma de cibersegurança.

A preocupação não se restringe a agentes de inteligência. Diversos departamentos federais possuem dados sensíveis que vão desde negociações comerciais estratégicas até informações nucleares mantidas pelo Departamento de Energia. O impacto potencial de um único traidor foi evidenciado por casos como os de Robert Hanssen e Aldrich Ames, cujas ações prejudicaram gravemente a segurança dos EUA.
De acordo com John Schindler, ex-oficial de contrainteligência, o cenário atual amplia o risco de vazamento de informações confidenciais. “Isso acontece mesmo em tempos normais, mas o Doge está levando a um novo nível”, disse Schindler. “Alguém vai se rebelar. A questão é quão grave será.”
Além disso, a facilidade com que informações sensíveis podem ser acessadas por estrangeiros aumentou devido à internet. Plataformas como LinkedIn permitem identificar ex-funcionários federais que buscam por empregos, tornando-os alvos fáceis para recrutadores mal-intencionados. “Você entra no LinkedIn e vê alguém que era ‘ex-funcionário do Departamento de Defesa agora procurando trabalho’ e é como, ‘bingo’”, destacou Schindler.
O ex-oficial do FBI Frank Montoya Jr. ressaltou que não são apenas ex-agentes de inteligência que preocupam, mas também funcionários de outras áreas do governo. “Um funcionário da Receita Federal ou de serviços sociais que esteja insatisfeito com o que o Doge está fazendo representa um risco ainda maior”, afirmou.