Deputados questionam Itamaraty após Brasil recusar venda bilionária de ambulâncias à Ucrânia

Ministério das Relações Exteriores bloqueou negócio envolvendo cerca de 450 blindados Guarani, que Kiev usaria em operações humanitárias

Em maio deste ano, a Ucrânia solicitou ao governo brasileiro a venda de 450 veículos blindados Guarani modelo ambulância, que segundo Kiev seriam usados em operações humanitárias na guerra em curso na Europa, como resgate de civis e soldados feridos. O negócio bilionário foi vetado pelo Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento do Itamaraty, segundo o site especializado Tecnologia & Defesa. Neste mês, a negativa motivou um requerimento de informações assinado por três deputados do Novo, Marcel van Hattem, Gilson Marques e Adriana Ventura, apresentado ao Ministério das Relações Exteriores no dia 13 de julho.

No documento, os deputados alegam que o negócio beneficiaria “estrategicamente o Brasil” e que, por isso, era do interesse do Ministério da Defesa. “O Ministério das Relações Exteriores, antes de adotar tal posição, buscou contato com o Ministério da Defesa, a fim de verificar os eventuais ganhos para a pasta das Forças Armadas com a venda dos blindados?”, questiona o documento.

O veiculo blindado Guarani, das forças armadas brasileiras (Foto: Tomasgera/WikiCommons)

De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o negócio poderia atingir a cifra de aproximadamente R$ 3,5 bilhões. Em royalties, o exército brasileiro receberia entre 2% e 5%, valor que poderia alcançar R$ 180 milhões e que seria reinvestido no desenvolvimento de novos modelos do Guarani.

A produção de cada unidade do veículo custa atualmente à Iveco Defense Vehicles (IDV), sediada na cidade mineira de Sete Lagoas, entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões. Como Kiev encomendou uma grande quantidade, 450 veículos, seria possível atingir o valor mínimo de venda por veículo, totalizando assim os cerca de R$ 3,5 bilhões totais.

O site ucraniano Militarnyi reproduziu o documento com a solicitação de autorização para exportação dos veículos, enviada ao ministro da Defesa José Múcio pelo Gabinete de Adinância da Defesa da Embaixada da Ucrânia no Brasil. O documento inclui uma foto de como ficaria o Guarani com as cores da Ucrânia e as sinalizações de que se trata de uma veículo de evacuação.

Blindado brasileiro Guarani com as cores da Ucrânia (Foto: reprodução: mil.in.ua)

“Os veículos seriam utilizados em tarefas principais de evacuação de civis em zona conflagrada, onde se necessita proteção blindada, assim como para transporte de feridos das zonas de combate até os hospitais de campanha” diz o documento. “Os veículos não seriam utilizados diretamente em tarefas de combate, apenas para questões humanitárias.”

Um Guarani ambulância pode transportar duas macas com feridos, mais três pacientes sentados, um médico, um ajudante, motorista e o comandante do veículo, segundo O Estado de S. Paulo. Kiev diz que os veículos de evacuação seriam equipados com “rádios e sistema de comunicação e pintados nas cores dos serviços de emergência e resgate ucranianos”, como mostra a imagem acima.

Neutralidade brasileira

No requerimento de informações, os deputados informam que o Ministério das Relações Exteriores “teria orientado o presidente da república a vetar a operação, sob a alegação de que comprometeria a posição de neutralidade do Brasil no conflito” entre Ucrânia e Rússia.

Observa, no entanto, que “causa estranhamento a posição da diplomacia brasileira nesse caso, que por muitos anos adotou visão pragmática nas relações internacionais, aproveitando-se de posição real de neutralidade para realização de negócios que beneficiam estrategicamente o Brasil.”

O presidente Lula chegou a se manifestar sobre o pedido de venda dos Guaranis. Em pronunciamento durante visita ao Brasil do primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, ele classificou a informação como “fake news”, dizendo que não havia tomado conhecimento de nenhuma solicitação do gênero.

Rutte, então, pediu a palavra e destacou a importância de o Brasil se posicionar com mais firmeza quanto à guerra, sendo assim reinserido na cena mundial. E sugeriu que a União Europeia (UE) sabia do pedido de Kiev. “Então, temos que tomar decisões, e eu gostaria de assegurar que o presidente sempre receba atualizações daquilo que nós temos conhecimento”, disse o premiê dirigindo-se a Lula.

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