Disputa nas Ilhas Malvinas favorece pesca descontrolada e impacta ecossistema

Intensidade da pesca atinge níveis 'alarmantes' e coloca em risco as populações de peixes e a diversidade biológica local

A pesca desregulamentada em uma área chamada de “Buraco Azul”, nas proximidades das Ilhas Malvinas, alcançou níveis preocupantes, colocando em risco as populações de peixes e a biodiversidade da região. Na visão de políticos e ambientalistas, a ausência de um acordo regional permite que as embarcações de pesca operam sem restrições, um verdadeiro vale-tudo ambiental. As informações são do jornal The Guardian.

O número de navios na área aumentou drasticamente nos últimos meses, passando de 80 para mais de 400, segundo o governo das Ilhas Malvinas. A situação levanta sérias preocupações ambientais e requer medidas urgentes para proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis, de acordo com a reportagem.

O Buraco Azul é uma área no Oceano Atlântico Sul, localizada aproximadamente a aproximadamente 320 quilômetros da costa da Argentina e ao norte das Ilhas Malvinas. A região é conhecida por sua rica biodiversidade marinha e é frequentemente explorada por embarcações de pesca. No entanto, o Buraco Azul não está abrangido por acordos de pesca regionais, o que o torna uma área de pesca desregulamentada, propícia a atividades de pesca excessivas e prejudiciais ao meio ambiente marinho.

Traineira chinesa em águas internacionais (Foto: WikiCommons)

Teslyn Barkman, membro da assembleia legislativa das Malvinas, alertou para a atividade de pesca descontrolada na região, enfatizando a falta de regulamentação devido à ausência de acordo regional.

A maioria dos navios registrados na região é de origem chinesa, conforme relatado pelo governo, e muitos desativavam seus rastreadores ao adentrar a área, tornando difícil monitorar suas atividades.

Embora os navios de pesca devam ser licenciados por seus países de origem e cumprir as regulamentações governamentais, em muitas partes do mundo, as Organizações Regionais para o Ordenamento Pesqueiro (OROPs) oferecem medidas adicionais de proteção.

Essas organizações são compostas por países interessados na área e têm o objetivo de evitar a pesca excessiva, fornecendo uma camada extra de regulamentação e controle.

O Buraco Azul está situado no meio de uma disputa geopolítica entre a Argentina e o Reino Unido sobre a soberania do arquipélago no Atlântico Sul. O território disputado é chamado pelos argentinos de Ilhas Malvinas e pelos ingleses de Falkland Islands.

O Reino Unido controla as ilhas desde 1833, mas a Argentina afirma que elas foram ilegalmente ocupadas pelos britânicos naquele ano. Nos anos 1980, Argentina e Reino Unido travaram uma batalha pela soberania das Ilhas Malvinas. A Argentina, então comandada por Leopoldo Fortunato Galtieri, tomou o controle das ilhas. E o presidente e general declarou na Casa Rosada que o povo argentino estaria “pronto para a batalha”. Na época, o Reino Unido era liderado pela primeira-ministra Margaret Thatcher, a primeira mulher a chefiar o governo. O país europeu venceu o conflito.

Em um referendo realizado em 2013, os residentes das Ilhas Malvinas votaram de forma esmagadora para permanecer como um Território Ultramarino autônomo do Reino Unido.

Vale-tudo

A falta de proteção na região levou a uma situação de “vale-tudo”, segundo Alex Reid, administrador de uma frota de embarcações pesqueiras dedicadas à captura de lulas, enquanto Rhys Arangio, da Colto, uma organização comercial que representa empresas pesqueiras que se dedicam à pesca legal do peixe-dente, apoia a criação de uma ORGP, mas aponta que questões geopolíticas complicam o processo.

O diretor executivo da Colto destaca que a gestão adequada da área é prejudicada pela falta de clareza na política regional, resultando na exploração descontrolada dos recursos e no esgotamento das populações marinhas.

O aumento significativo das frotas chinesas representa um sério risco para a sustentabilidade das populações de lulas, essenciais para a economia das Ilhas Malvinas. A venda de licenças de pesca é crucial para a economia local, representando dois terços de sua atividade econômica.

Segundo Hernán Pérez Orsi, do Greenpeace Argentina, a sobrepesca ameaça não apenas as espécies visadas, mas também o ecossistema em geral, tornando o Buraco Azul uma área crucial para a biodiversidade global.

A falta de compartilhamento de dados entre as ilhas e o continente também dificulta a monitorização adequada da pesca na região.

 

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