Emprego e riscos: por que a Polônia atrai cada vez mais latino-americanos

O aumento de latino-americanos no país europeu gera oportunidades de trabalho e estabilidade, mas também revela desafios legais e práticas trabalhistas precárias

Nos últimos anos, a Polônia tem recebido um número crescente de imigrantes latino-americanos, principalmente de Colômbia, Argentina, Peru e Venezuela. Em 2024, quase 45 mil autorizações de trabalho foram concedidas a latino-americanos, cinco vezes mais do que em 2022, de acordo com a Instituição de Seguridade Social da Polônia (ZUS). Os colombianos representam a grande maioria, seguidos por argentinos (3,5%), peruanos (2,2%) e venezuelanos (1,8%). As informações são do site de notícias Notes from Poland.

A maioria desses migrantes é jovem e com bom nível educacional, com idades entre 20 e 35 anos, e muitos possuem ensino superior. Apesar da qualificação, uma parcela significativa trabalha abaixo de sua formação: 44% dos latino-americanos relatam empregos incompatíveis com suas habilidades, especialmente nos setores de produção de alimentos, transporte, logística e administração.

Pessoas transitam em uma rua de Varsóvia (Foto: WikiCommons)
Por que a Polônia atrai latino-americanos

O país, embora haja relatos de xenofobia – em particular contra a comunidade ucraniana, formada por cerca de dois milhões de pessoas, entre trabalhadores migrantes e quase um milhão de refugiados de guerra – é visto como um destino seguro e cheio de oportunidades, com políticas favoráveis aos migrantes e facilidade de encontrar emprego. A presença de amigos ou conhecidos e o conhecimento de outros latino-americanos trabalhando no país também são fatores decisivos.

Muitos relatam que a estabilidade e segurança são ainda mais importantes do que oportunidades salariais, especialmente quando comparadas a países como Espanha, onde o desemprego é alto.

Desafios legais e trabalhistas

Apesar das oportunidades, muitos enfrentam dificuldades para legalizar sua permanência. O processo pode ser longo e burocrático, e muitos imigrantes entram com visto de isenção por 90 dias, precisando depois solicitar autorizações de trabalho e residência. A falta de informação e a mobilidade frequente dos migrantes podem levar à permanência irregular.

Além disso, dados da ZUS mostram que 83,7% dos latino-americanos trabalham com contratos precários (umowa zlecenie ou contratos de agência), enquanto apenas 15,9% têm contratos formais (umowa o pracę). Algumas agências e empregadores desonestos exploram os trabalhadores, cobrando taxas ilegais ou aplicando penalidades injustas. O Sindicato de Trabajadores Latinoamericanos en Polonia confirma casos de exploração, especialmente na indústria de produção de carne.

Migrantes bem-sucedidos destacam que a chegada com visto de trabalho é essencial para garantir direitos e segurança. O governo polonês é incentivado a aumentar a fiscalização de empregadores, melhorar processos consulares e aplicar penalidades mais severas a quem explora trabalhadores estrangeiros.

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