Enchentes no Brasil e na África, calor sufocante na Ásia: catástrofes climáticas causam mortes e deslocamento em todo o mundo

Especialistas dizem não lembrar de outro momento em que tantas partes do planeta sofreram simultaneamente com o clima extremo

As enchentes que atingem o Rio Grande Sul afetaram ao menos 401 dos 497 municípios do estado e deixaram 95 mortos até agora, segundo dados da Defesa Civil. São mais de 48 mil pessoas forçadas a deixar suas casas em virtude das fortes chuvas, vítimas de uma catástrofe climática que não é isolada. A África e o estado do Texas, nos EUA, também experimentam a devastação causada pela água, enquanto a Ásia enfrenta uma onda de calor sem precedentes que deixou mortos e fechou escolas.

Cientistas ouvidos pela agência Associated Press (AP) dizem não se recordar de outro momento em que tantas partes diferentes do planeta tenham sofrido simultaneamente com o clima extremo. E alertam que tragédias como a que atinge o Brasil atualmente serão cada vez mais frequentes e intensas.

“Dado que assistimos a um salto sem precedentes no calor global nos últimos 11 meses, não é surpreendente ver o agravamento dos extremos climáticos tão cedo no ano”, disse o reitor de meio-ambiente da Universidade de Michigan, nos EUA, Jonathan Overpeck. “Se este ritmo recorde de aquecimento continuar, 2024 será provavelmente um ano recorde de desastres climáticos e sofrimento humano.”

Enchente de 2017 em Houston, nos EUA: catástrofe climática se repete em 2024 (Foto: WMO/Flickr)

No Texas, enchentes são um problema antigo, como no Rio Grande do Sul. O último grande evento havia ocorrido em 2017, quando o furacão Harvey atingiu a cidade de Houston e causou chuvas históricas que inundaram milhares de casas e geraram mais de 60 mil resgates. Neste ano, as fortes chuvas levaram um terço dos municípios do estado a emitir alertas de desastre, segundo a rede CNN.

As águas atingiram um veículo perto da cidade de Fort Worth, e no domingo (5) as autoridades resgataram o corpo de um menino que estava dentro do automóvel com o pai e a mãe. Os adultos conseguiram escapar, mas o garoto de quatro anos foi levado pela correnteza. Ao menos outras duas mortes foram registradas no estado em função das chuvas.

Na Ásia, o verão sequer chegou e as ondas de calor deste início de primavera já assustam a população. As altas temperaturas são apontadas como a causa da morte de quase 30 pessoas, segundo a rede CBS News, com pico de 46º C na Índia, 44º C na Tailândia e 48º C em Mianmar. Nas Filipinas, escolas foram forçadas a cancelar as aulas devido ao calor sufocante.

Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, o historiador meteorológico Maximiliano Herrera destacou ainda o calor registrado na China e no Vietnã. “O dia de abril mais quente já registrado em ambos os países. Milhares de registos estão sendo brutalizados por toda a Ásia, o que é de longe o acontecimento mais extremo da história climática mundial.”

Na África, o calor também é uma preocupação, com máximas de 48,2º C no Mali e temperaturas médias de 45,6º C no Chade. Herrera classificou alguns desses dados como “absurdos” e “nunca antes vistos”, citando que mesmo durante a noite as temperaturas têm permanecido entre 34º C e 35º C em alguns locais.

Andrew Dessler, cientista climático da Universidade Texas A&M, dos EUA, diz que a humanidade não tem armas para enfrentar a crise climática. “Estamos abandonando o clima do século 20 neste momento e simplesmente não conseguimos lidar com esses eventos”, disse ele à AP. “Então, eles estão ficando um pouco mais extremos, mas estão ultrapassando nossa capacidade de lidar com eles.”

O problema do calor no continente africano é acompanhado por inundações “sem precedentes e devastadoras”, com centenas de milhares de pessoas forçadas a abandonar as suas casas no Burundi, Quênia, Ruanda, Somália, Etiópia e Tanzânia, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

As Nações Unidas informaram que mais de 637 mil pessoas foram afetadas por semanas de chuvas fortes, incluindo 234 mil deslocados apenas nos últimos cinco dias. Não há registros oficiais do número de mortos, mas os deslocamentos não param de crescer, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A situação levou a agência a alertar novamente para a necessidade de debates em torno das mudança climáticas e da urgência de medidas de mitigação do problema. Destacou, ainda, que a questão da mobilidade e do deslocamento humano deve ser incluída no pacote, dado o número crescente de pessoas forçadas a deixar suas casas devido à catástrofes climáticas.

Trata-se de um problema que atinge duramente o Brasil, líder em casos de deslocamentos por desastres naturais na América do Sul. Em recente relatório, a ONU destacou que enchentes causaram o deslocamento de cerca de 700 mil brasileiros em 2022.

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