EUA endurecem discurso contra China e reforçam críticas ao comércio e à cibersegurança

Washington destaca práticas desleais de Beijing e elimina menções a cooperação em cultura, meio ambiente e direitos humanos

O Departamento de Estado norte-americano alterou a forma como se refere à China em seu site oficial, reforçando críticas sobre práticas comerciais desleais e ciberataques. As mudanças, feitas em 13 de fevereiro, ampliam a ênfase no déficit comercial entre os dois países e retiram menções à colaboração em áreas como cultura, meio ambiente e direitos humanos. Também eliminam referências ao trabalho conjunto com aliados para lidar com desafios globais e assim refletem a nova abordagem do governo Trump em relação a Beijing, segundo a agência Reuters.

O site do Departamento de Estado agora descreve a economia chinesa como “um dos ambientes de investimento mais restritivos do mundo” e denuncia o uso de “trabalho forçado e subsídios estatais massivos” como instrumentos que prejudicam empresas americanas. Segundo o texto atualizado, essas práticas não apenas distorcem a concorrência, mas também tornam as empresas dos EUA “cúmplices das violações de direitos humanos na China”.

EUA x China: Trump trava contesta práticas comerciais desleais de Beijing (Foto: WikiCommons)

O governo chinês reagiu duramente às mudanças. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Guo Jiakun classificou as revisões como “distorção dos fatos e calúnia contra a política externa chinesa”, além de um esforço para “alimentar a chamada competição estratégica entre China e EUA”. Ele acrescentou: “A China está profundamente insatisfeita com isso.”

Além das críticas econômicas, o novo texto destaca o papel da China em ciberataques contra órgãos do governo dos EUA e infraestrutura crítica. Também acusa Beijing de tentar obter tecnologias avançadas americanas para fins militares e de manipular organizações internacionais, incluindo a ONU (Organização das Nações Unidas), para expandir sua influência global. O site afirma que o Partido Comunista Chinês (PCC) busca “instalar seus membros em posições-chave de liderança” nessas entidades.

Outra alteração significativa foi a eliminação da sigla oficial “República Popular da China (RPC)” do informe, que agora se refere ao país apenas como “China”. Essa mudança linguística é vista como uma tentativa de reforçar a narrativa de que o atual regime comunista deve ser considerado o status permanente da nação, em vez de uma fase política transitória.

A exclusão de trechos sobre assistência dos EUA à China também reflete a nova diretriz de Washington. O site retirou menções a programas voltados para a preservação da cultura tibetana, proteção ambiental e combate ao tráfico de drogas, seguindo a orientação de Trump de reduzir o papel da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e suspender parte da ajuda externa.

A retórica mais dura da administração Trump contrasta com o tom adotado pelo governo Biden, que frequentemente utilizava a sigla “RPC” em seus comunicados oficiais e enfatizava o trabalho conjunto com aliados para pressionar Beijing. Especialistas avaliam que a mudança na linguagem pode indicar um realinhamento estratégico dos EUA em relação ao regime chinês.

O caso de Taiwan

As alterações sucedem outra que irritou ainda mais a China, com Washington tendo removido de seu informe sobre Taiwan a afirmação de que não apoia a independência da ilha. O governo chinês acusou os EUA de enviarem “um sinal errado” aos separatistas taiwaneses e pediu que a administração Trump “corrija seu erro”.

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa. Embora tenha feito a mudança no texto, o governo dos EUA disse que se mantém alinhado com o conceito “Uma Só China“.

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