O Departamento de Estado norte-americano retirou de seu site uma declaração que afirmava que Washington não apoia a independência de Taiwan, o que gerou forte reação da China. O governo chinês acusou os EUA de enviarem “um sinal errado” aos separatistas taiwaneses e pediu que a administração Trump “corrija seu erro”. A informação foi divulgada pela rede BBC.
O fato ocorreu após uma atualização rotineira da ficha técnica sobre as relações EUA-Taiwan, segundo um porta-voz do governo norte-americano. Apesar da mudança, Washington reafirma seu compromisso com a política de “Uma Só China”, na qual reconhece diplomaticamente Beijing em vez de Taipé.
A China considera Taiwan uma província rebelde e não descarta o uso da força para reunificá-la ao território continental. No entanto, grande parte da população taiwanesa prefere manter o status quo, sem declarar independência nem se unir formalmente à China.

Além da retirada da frase, o documento atualizado também declara que os EUA apoiarão a participação de Taiwan em organizações internacionais “quando aplicável”. A mudança foi vista como um possível reforço ao reconhecimento diplomático da ilha.
Um porta-voz do Instituto Americano em Taiwan, a representação de Washington na ilha, disse à imprensa local que a atualização visa esclarecer o caráter não oficial das relações entre os dois territórios. “Temos afirmado consistentemente que nos opomos a qualquer mudança unilateral no status quo, seja de que lado for”, afirmou.
No domingo (16), o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Lin Chia-lung, agradeceu aos EUA por, segundo ele, utilizarem “palavras positivas e amigáveis a Taiwan” no novo documento.
Já Beijing classificou a alteração como uma “grave regressão” na postura norte-americana sobre Taiwan. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, declarou em uma coletiva nesta segunda-feira (17) que a decisão dos EUA “demonstra sua insistência em utilizar Taiwan para conter a China”.
“Isso envia um sinal errado e perigoso às forças separatistas da ilha. Pedimos aos EUA que corrijam imediatamente esse erro e respeitem o princípio de Uma Só China”, afirmou Guo.
A atualização da posição oficial norte-americana ocorre em um momento de crescente tensão entre Washington e Beijing, especialmente no Indo-Pacífico, onde ambos os países disputam influência geopolítica. A resposta chinesa indica que a questão de Taiwan seguirá sendo um ponto central nas relações bilaterais.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.