EUA preparam a implantação de novos mísseis terrestres para conter a China no Indo-Pacífico

General norte-americano adverte que a acelerada expansão militar da China representa um perigo iminente ao colocar Taiwan em risco

As Forças Armadas dos Estados Unidos em operação no Indo-Pacífico (Usindopacom, da sigla em inglês) estão planejando para o ano que vem a implantação de novos mísseis de alcance intermediário na região.

A medida é parte de uma estratégia destinada a dissuadir a China de qualquer potencial invasão a Taiwan, revelou o comandante, general Charles Flynn, durante uma coletiva de imprensa no Fórum Internacional de Segurança no sábado (25), em Halifax, no Canadá. As informações são do site Defense One.

O arsenal incluirá uma quantidade restrita de mísseis Tomahawk e SM-6 baseados em terra, com o general Flynn revelando que testes já foram conduzidos e que atualmente existem uma ou duas baterias disponíveis. O comandante detalhou o plano “Em 2024, pretendemos implementar esse sistema na região. Não fornecerei detalhes sobre a localização ou a data específica, mas posso confirmar que a implementação está planejada”, disse.

General Charles Flynn, comandante do Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos (Foto: U.S. Air Force photo by Sgt. Christopher Hubenthal)

A instalação de mísseis Tomahawk em configurações terrestres, com uma capacidade de alcance de até 2,5 mil quilômetros, foi proibida pelo Tratado de Desarmamento Nuclear sobre Mísseis de Alcance Intermediário (INF, da sigla em inglês), de 1987, até a retirada dos EUA em 2019, citando violações por parte da Rússia. Em julho, o Corpo de Fuzileiros Navais estabeleceu a primeira bateria de Tomahawk em Camp Pendleton, Califórnia.

Segundo Flynn, esses mísseis podem ser sucedidos pelo Míssil de Ataque de Precisão do Exército, programado para alcançar capacidade operacional inicial ainda neste ano. O PrSM, projetado para ultrapassar 500 quilômetros de alcance, superando o SM-6 de 370 km, é lançável a partir da plataforma Himars.

Flynn, em declarações públicas feitas em outras oportunidades, ecoou o sentimento de outros líderes do Comando Indo-Pacífico dos EUA, afirmando que a crescente agressividade da China tem levado mais militares regionais a buscar exercícios conjuntos com as forças americanas.

Ele acrescentou que Beijing tem acelerado o investimento militar e ressaltou que a capacidade de ação chinesa em 2023 é significativamente diferente do que era em 2014, 2015, 16, 17 ou 18. Nesse contexto, Flynn alertou que a trajetória atual da China é uma ameaça “tanto para a região do Pacífico quanto para o mundo”.

Risco de invasão

Em 2021, o almirante Philip Davidson, então comandante do Usindopacom, alertou o Congresso de que a China poderia invadir Taiwan em seis anos. No sábado, Flynn não especificou quando isso poderia ocorrer, mas destacou alguns fatores que podem influenciar as decisões de Xi Jinping, líder chinês.

Primeiro, Flynn mencionou as sanções econômicas, especialmente as impostas à Rússia, e questionou se a China conseguiria resistir a elas. Segundo, ele observou que a China está intensificando seus esforços para desestabilizar a rede de aliados e parceiros dos EUA na região, tanto no espaço da informação quanto no ar, mar e terra.

Um terceiro fator é a prontidão militar da China. Em agosto, Xi substituiu vários generais importantes da força de foguetes chinesa. Flynn acredita que Xi está avaliando a capacidade militar de sua força para conduzir uma invasão através do Estreito, uma operação altamente complexa que exigiria todas as suas forças e uma quantidade significativa de experiência, precisão, tempo e sustentação.

Por fim, Flynn destacou o sucesso das operações de informação da China, especialmente durante as próximas eleições de janeiro em Taiwan. Ele afirmou que a China precisa vencer a guerra de informação, fazendo com que os EUA sejam vistos como uma potência em declínio e não confiável, enquanto Beijing é vista como uma potência confiável e em ascensão.

Por que isso importa?

Os chineses ostentam o segundo maior orçamento de defesa do mundo, ficando atrás somente dos EUA. O país asiático tem se empenhado em uma modernização vertiginosa de suas forças com sistemas de armas, incluindo o caça J-20 – o jato de combate stealth mais avançado da China –, mísseis hipersônicos e dois porta-aviões, sendo que um terceiro está em construção.

Em artigo publicado no jornal South China Morning Post em 2022, Mark J. Valencia, analista de política marítima, comentarista político e consultor internacionalmente reconhecido com foco na Ásia, fez uma previsão alarmante.

“A China e os EUA estão flertando com um desastre no Mar da China Meridional. Eles estão se apalpando como pugilistas no primeiro assalto. Até agora, eles evitaram uma colisão frontal, mas esta pode ser apenas a calmaria antes da severa tempestade militar”, disse ele no texto.

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