Anistia Internacional acusa a China de crimes contra a humanidade em Xinjiang

Há suspeitas de que, desde 2017, Beijing tenha detido cerca de um milhão de uigures e outros muçulmanos em Xinjiang

A Anistia Internacional pediu à ONU (Organização das Nações Unidas) que investigue a China por detenção em massa, vigilância e tortura contra as minorias na província de Xinjiang, no noroeste do país asiático. Em relatório publicado na quinta (10), a ONG aponta crimes contra a humanidade praticados pelos chineses uigures, cazaques e outros muçulmanos.

No documento, de 166 páginas, a Anistia afirma que as minorias da região sofrem tortura, detenções injustas e outras privações de liberdade física. O texto segue um conjunto semelhante de conclusões recentes da Human Rights Watch.

Uigures na cidade de Kashgar, Xinjiang, China, em julho de 2017 (Foto: CreativeCommons/Marc van der Chijs)

“Deveria chocar a consciência da humanidade que um grande número de pessoas tenha sido submetido a lavagem cerebral, tortura e outros tratamentos degradantes em campos de internamento. Outros milhões vivem com medo em meio à alta vigilância”, disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard.

O autor do relatório Jonathan Loeb disse em entrevista coletiva que a pesquisa da organização “apenas arranha a superfície“, dando a entender que a situação é pior do que se tem conhecimento, reportou a britânica BBC.

Mais de um milhão

Há suspeitas de que, desde 2017, Beijing tenha detido cerca de um milhão de uigures e outros muçulmanos em Xinjiang. São relatadas torturas físicas e psicológicas dentro das prisões e campos de detenção da região.

O país asiático é acusado de usar esterilização forçada, aborto e transferência de população para reduzir as taxas de natalidade e densidade populacional na província. Também são alvo os líderes religiosos, com a intenção de quebrar as tradições sacras e culturais.

A China nega essas acusações e diz que seus acampamentos em Xinjiang são programas voluntários e de combate ao terrorismo na região.

Pressão internacional

Em março, a União Europeia (UE), os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá impuseram sanções às autoridades chinesas pelos supostos abusos. Beijing respondeu impondo boicotes retaliatórios a legisladores, pesquisadores e instituições.

Os EUA e os parlamentos de Reino Unido, Canadá, Holanda e Lituânia também aprovaram resoluções declarando as ações da China em Xinjiang como “genocídio”.

Entretanto, um dos empecilhos para abrir uma investigação internacional é o fato de o país asiático não ser signatário do Tribunal Penal Internacional (TPI). A China também tem poder de veto na Corte Internacional de Justiça caso venha a ser julgada.

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