FBI trabalha com empresas dos EUA para coletar provas de crimes de guerra na Ucrânia

Cooperação reflete a intensificação da parceria Washington-Kiev no campo cibernético em meio aos ataques de Moscou

Kiev está contando com o apoio do FBI (polícia federal dos EUA) e de empresas do seu principal aliado ocidental na coleta de evidências de crimes de guerra cometidos pelas forças russas na Ucrânia. O trabalho é coordenado em campos de batalha e cidades devastadas pela guerra, disse um agente especial na terça-feira (25) durante um importante evento de segurança cibernética. As informações são da agência Reuters.

“Coletar, analisar e processar esses dados é algo que o FBI está acostumado a fazer”, disse Alex Kobzanets durante fala na RSA Conference, uma das maiores conferências de cibersegurança do mundo, que reúne nesta semana especialistas da área em São Francisco, na Califórnia.

Tal operação, conforme detalhou o agente do FBI, consiste no exame de informações contidas em telefones celulares, na análise forense de amostras de DNA ou no exame de partes do corpo retiradas do front de batalha.

Cemitério na cidade de Bucha com corpos de vítimas da guerra (Foto: Diego Ibarra Sánchez/Unicef)

A parceria reflete a intensificação da cooperação EUA-Ucrânia também no campo cibernético para fazer frente a um adversário em comum: Moscou. Segundo Kobzanets, o FBI tem ajudado a Ucrânia a identificar colaboradores e espiões russos no país há pelo menos um ano e meio.

As empresas de segurança privadas e governamentais dos EUA são as principais parceiras de Kiev na tentativa de combater os ataques cibernéticos de Moscou, que têm sido alvo de ofensivas digitais com intensidade desde pelo menos 2015.

Uma autoridade ucraniana em cibersegurança disse que o número de ciberataques a mando do Kremlin vem aumentando constantemente há anos, mas eles se tornaram mais direcionados desde o início do conflito. Eles agora são chamados de “crimes de guerra cibernética“.

“É muito difícil provar em um processo criminal quem é o responsável”, disse Illia Vitiuk, chefe do Departamento de Segurança da Informação Cibernética no Serviço de Segurança da Ucrânia. E acrescentou: “é muito importante para nós obtermos o máximo de informações sobre os cibercriminosos russos, já que coletamos todas essas informações e as colocamos em nossos casos criminais.”

Passados 14 meses de conflito, até o dia 24 de abril foram registrados 82.487 crimes de guerra na Ucrânia, segundo o site Russia’s war in Ukraine, do Ministério de Relações Exteriores ucraniano. São 14.441 civis feridos e 8.574 mortos, sendo 470 crianças assassinadas. Prédios destruídos chegam a 120 mil.

Por que isso importa?

As autoridades da Rússia são efetivamente responsáveis por crimes de guerra cometidos na Ucrânia. É o que afirma um relatório divulgado em março pela ONU (Organização das Nações Unidas), fruto do trabalho de uma Comissão Internacional Independente de Inquérito que esteve no país devastado pelo conflito.

“Os crimes de guerra incluem ataques a civis e infraestrutura relacionada à energia, homicídios dolosos, confinamento ilegal, tortura, estupro e outras violências sexuais, bem como transferências ilegais e deportações de crianças”, diz o documento, que acrescenta. “Em áreas sob seu controle, as autoridades russas cometeram assassinatos deliberados de civis ou pessoas não envolvidas em combates (hors de combat), que são crimes de guerra e violações do direito à vida”.

No caso dos ataques contra civis, eles são realizados principalmente com armas explosivas em áreas populosas, algo que já havia sido destacado em relatórios anteriores. Um balanço divulgado na semana passada afirma que 8.173 mortes de civis foram registradas na guerra, além de 13.620 feridos. Os números reais, porém, tendem a ser bem maiores devido à subnotificação.

Os casos de violência sexual também têm se acumulado desde o início da guerra. O relatório destaca que muitos dos estupros constatados foram “cometidos por autoridades russas quando realizavam visitas de casa em casa em localidades sob seu controle e durante o confinamento ilegal”.

Já a tortura e o confinamento ilegal muitas vezes ocorrem de forma conjunta. Como o caso de um ucraniano que foi detido e espancado pelas tropas invasoras como “castigo por falar ucraniano” e por “não se lembrar da letra do hino da Federação Russa”.

Entre os inúmeros crimes citados no documento, um que tem gerado intenso debate atualmente é a transferência forçada de crianças ucranianas para a Rússia.

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