Há 40 anos, guerrilha maoísta Sendero Luminoso se armava no Peru

História do fim do grupo se confunde com o surgimento da ditadura de Alberto Fujimori, que chega ao poder em 1990

Em 17 de maio de 1980, cinco homens mascarados incendiaram uma urna eleitoral em Chuschi, nos Andes peruanos. Foi a primeira ação do Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro maoísta que agiu com frequência no país até 1992.

O fim da guerrilha imiscui-se com o início da ditadura de Alberto Fujimori, como lembrou a “The Economist” na edição de 16 de maio. O período fujimorista se estende de julho de 1990 a novembro de 2000.

“Fujimori, que presidia o país durante a derrota do Sendero e a recuperação econômica, usou essa ameaça para erigir uma ditadura”, analisou a revista. “De diferentes formas, ambos enfraqueceram as instituições”.

Atentado do Sendero Luminoso em 1992, em Lima, no Peru (Foto: Wikimedia Commons)

Década de conflito

O grupo se notabilizou pela crueldade nos ataques. Dos estimados 69 mil mortos e desaparecidos durante a guerrilha, metade é responsabilidade do Sendero. Os dados são da comissão da verdade peruana.

A outra metade divide-se entre as forças do governo e as milícias paramilitares que agiam no interior do país.

Três em cada quatro mortos e desaparecidos vinham de comunidades rurais, falavam quéchua, língua indígena andina, e foram “tratados com desprezo por [o fundador do grupo, Abimael] Guzmán e indiferença pelo Estado”.

O conflito que varreu o Peru nos anos 1980 também tirou meio milhão de suas casas.

O Sendero foi criado ainda nos anos 1970, pelo professor de filosofia Abimael Guzmán, na região de Ayacucho. Este território, no sul do país, é cortado pela Cordilheira dos Andes e não é incomum ouvir quéchua pelas vilas.

De fundação fortemente maoísta, o Sendero tirava inspiração do Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot no Camboja.

Seu fundador, conhecido como Presidente Gonzalo, escondia-se em casas alugadas nos bairros nobres da capital Lima, como conta a “The Economist”.

Guzmán dizia ser “a quarta espada do Marxismo-Leninismo”, ao lado de Mao Tsé-Tung, Karl Marx e Vladimir Lênin.

Preso e julgado em 1992, o “Presidente” recebeu pena perpétua. Vive até hoje, aos 85 anos, encarcerado na base naval de Callao, perto de Lima. Sua captura virtualmente encerrou as atividades do grupo.

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