Houthis são o maior desafio naval dos EUA desde a Segunda Guerra, segundo especialistas

Ataques a navios no Mar Vermelho forçam a Marinha norte-americana a trabalhar sem descanso pela liberdade de navegação

Não foi a União Soviética. Nem é a China de Xi Jinping ou a Rússia de Vladimir Putin. O maior desafio naval das Forças Armadas dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial são os Houthis apoiados pelo Irã, que desde o início do conflito Israel x Hamas passaram a atacar navios no Mar Vermelho. Esta é a avaliação de autoridades norte-americanas e analistas ouvidos pela agência Associated Press (AP).

Usando drones e mísseis, os Houthis começaram a atacar navios comerciais em novembro de 2023, argumentando que servem a Israel e declarando apoio aos palestinos de Gaza durante no conflito. Com o tempo, porém, mesmo navios sem relação com Israel passaram a ser atacados. as ações acontecem quase diariamente e já atingiram mais de 50 embarcações.

Navios militares do Egito e dos EUA no Mar Vermelho, novembro de 2021 (Foto: U.S. Navy/Flickr)

Segundo especialistas, o arsenal dos Houthis inclui mísseis balísticos com alcance de até 1,9 mil quilômetros e drones iranianos Shahed-136, capazes de percorrer até dois mil quilômetros. Os próprios rebeldes exaltam seu arsenal e alegam que faz parte dele inclusive um míssil hipersônico, artefato que nem as Forças Armadas dos EUA têm à disposição.

A ofensiva rebelde levou a uma ação retaliatória dos EUA e do Reino Unido, que formaram uma coalizão naval para assegurar a navegação livre e evitar um choque econômico ainda maior. As rotas visadas pelos Houthis recebem cerca de 15% do comércio internacional, e os ataques forçaram muitas companhias a mudarem o trajeto de suas embarcações, encarecendo o frete mundial.

“Não acho que as pessoas realmente entendam o quão sério é o que estamos fazendo e como os navios continuam ameaçados”, disse o comandante Eric Blomberg, da Marinha dos EUA. Segundo ele, enquanto as forças ocidentais não podem aceitar qualquer erro na proteção dos navios, os Houthis fazem uma série de disparos e precisam que somente um deles supere as defesas para atingir seu alvo.

Outro militar dos EUA, o capitão David Wroe, lembra que seus homens estão há cerca de sete meses na ativa, e o trabalho é diário. Os rebeldes fizeram uma pequena redução na ofensiva durante o mês sagrado do ramadã, mas logo retomaram os bombardeios. Foram raros os dias em que nenhum míssil ou drone tenha sido disparado.

“Este é o combate mais sustentado que a Marinha dos EUA já viu desde a Segunda Guerra Mundial facilmente”, disse Bryan Clark, ex-submarinista da Marinha e hoje analista do think tank Instituto Hudson. “Estamos prestes a permitir que os Houthis sejam capazes de organizar os tipos de ataques que os EUA não conseguem parar sempre, e então começaremos a ver danos substanciais. Se você deixar isso piorar, os Houthis se tornarão uma força muito mais capaz, competente e experiente.”

As fontes ouvidas pela AP afirmam que os ataques não seriam possíveis sem o apoio militar de Teerã, que oficialmente nega patrocinar os Houthis.“Atualmente temos uma confiança bastante elevada de que o Irão não só está a fornecer apoio financeiro, mas também de apoio de inteligência”, declarou o contra-almirante Marc Miguez.

Em março, dois marinheiros filipinos e um vietnamita foram as primeiras vítimas fatais da ofensiva, com mísseis lançados pelos Houthis atingindo contra o MV True Confidence, um graneleiro de bandeira de Barbados e propriedade da Libéria atingido no Golfo de Áden.

Nem todas as embarcações, entretanto, estão na mira. O grupo iemenita se absteve de atacar navios de China e Rússia, aliados de Teerã, desde que não tenham conexões com o Israel. Em troca, as duas nações prometeram apoio político aos insurgentes, possivelmente incluindo o bloqueio de resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) no Conselho de Segurança.

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