Yuanjun Tang participou dos protestos populares que culminaram com o Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, ganhou a cidadania norte-americana após o episódio e tornou-se um conhecido ativista em favor da democracia na China. Nesta semana, ele foi formalmente acusado pelos EUA de atuar como um agente do Partido Comunista Chinês (PCC).
Em comunicado publicado na quarta-feira (21), o Departamento de Estado norte-americano afirmou que Tang é acusado “de agir e conspirar para agir nos Estados Unidos como um agente não registrado da República Popular da China (RPC) e de fazer declarações materialmente falsas ao FBI.” Ele foi preso em Nova York.
O órgão governamental acusa o ativista de servir ao Ministério da Segurança do Estado (MSE), a principal agência de inteligência de Beijing no exterior. Como agente do governo chinês, ele era encarregado de vigiar grupos considerados uma ameaça ao regime, como outros ativistas pró-democracia.
Ele teria realizado ao menos três reuniões presenciais com oficiais de inteligência do MSE na China, ajudando o órgão a se infiltrar em um grupo de dissidentes formado em um aplicativo de mensagens criptografadas. Foram recuperados com Tang instruções que ele recebeu do governo chinês, além de fotos, vídeos e documentos coletados por ele que seriam enviados a Beijing.
As acusações contra o ativista, que podem render uma pena de até 20 anos de prisão, chocaram outros defensores da democracia na China, dado o papel de destaque de Tang no movimento. De acordo com a Rede Radio Free Asia (RFA), ele chegou a presidir o Partido Democrático da China, grupo pró-democracia sediado em Nova York e fundado por Juntao Wang, o líder dos protestos de 1989.
O Massacre
Em 4 de junho de 1989, centenas de milhares de estudantes e trabalhadores haviam se reunido para lamentar a morte do secretário-geral do PCC, Hu Yaobang. Porém, a marcha pacífica logo se transformou em um movimento por maior transparência, reformas e democracia na China.
O exército foi mobilizado e dispersou a multidão com armas de fogo e tanques de guerra, considerando a manifestação popular uma ameaça ao poder do PCC. Números oficiais de mortos e feridos nunca foram divulgados, vez que o governo chinês tornou o assunto proibido no país. Porém, dados levantados pelo governo britânico e reproduzidos pela BBC apontam cerca de dez mil vítimas fatais.