Mesmo após aval de Erdogan, ingresso da Suécia na Otan continua travado

Presidente turco diz que aprovação do parlamento só sairá em outubro, o que pode levar Washington a postergar uma venda de jatos militares a Ancara

A cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realizada nos últimos dois dias em Vilnius, na Lituânia, apresentou uma boa e surpreendente novidade para os países-membros: o aval da Turquia à candidatura da Suécia. O ingresso da nação escandinava, porém, não será imediato, o que levou os EUA a ensaiarem uma represália contra Ancara. As informações são do site Al-Monitor.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pegou a aliança militar transatlântica de surpresa na terça-feira (11) ao anunciar que retiraria o veto imposto à Suécia, abrindo caminho para o país finalmente aderir à Otan. Porém, no dia seguinte, disse que o aval do parlamento turco, necessário para formalizar o “sim” do presidente, não sairia antes de outubro.

O atraso deixa no ar a possibilidade de que até lá o líder turco possa voltar atrás em sua decisão. “O parlamento não estará em sessão nos próximos dois meses”, disse Erdogan em Vilnius. “Mas nossa meta é finalizar esse assunto o mais rápido possível.”

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, recebe cartas oficiais de pedido de adesão à Aliança de Klaus Korhonen (embaixador da Finlândia) e Axel Wernhoff (embaixador da Suécia) (Foto: Otan/Flickr)

O presidente vinha se negando a aprovar a candidatura sueca sob o argumento de que o país dá abrigo a “terroristas”, devido à presença em território sueco de militantes de organizações curdas classificadas por Ancara como extremistas.

A situação piorou após os recentes episódios de queima de cópias do Alcorão na Suécia, realizadas em duas ocasiões com o aval das autoridades locais, sob o argumento de assegurar a “liberdade de expressão”.

“Não estamos tão próximos quanto pensávamos quando Erdogan inicialmente fez a declaração de que daria luz verde a isso”, disse Alper Coskun, ex-vice-representante permanente da missão da Turquia na Otan. “Embora Erdogan tenha dado sinal verde para isso, o que recebeu sinal verde foi o envio ao parlamento”, completou.

Represália dos EUA

Diante do novo impasse, os EUA ameaçam travar uma venda de jatos militares F-16 a Ancara, um negócio de US$ 20 bilhões que depende da aprovação do Congresso norte-americano.

O presidente Joe Biden afirmou em mais de uma ocasião que o negócio não está atrelado à aprovação da candidatura sueca, mas os parlamentares dos EUA parecem pensar de outra maneira. Autoridades norte-americanas em Vilnius disseram que a conclusão do negócio pode ser postergada à espera do “sim” definitivo da turquia.

O senador democrata Bob Menendez, crítico de longa data da Turquia e presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, é um dos obstáculos para o acordo dos caças. Não somente pela falta de aval à Suécia, mas também pela tensão entre Turquia e Grécia, outro aliado de Washington.

Um assessor de política externa norte-americano, cuja identidade não foi revelada, disse que os democratas avaliam a aprovação de Erdogan como “um passo significativo à frente”. Mas “ainda têm preocupações sobre violações da soberania grega, falta de aplicação das sanções russas pela Turquia e agressão contínua contra parceiros curdos.”

Alan Makovsky, ex-membro do Comitê de Relações Exteriores e hoje analista de Turquia no think tank Centro para o Progresso Americano, vê as questões da Otan e dos caças conectadas.

“Espero que o governo tente pressionar Erdogan a ratificar imediatamente e, ao mesmo tempo, tentar fazer com que Menendez diga ‘sim’”, disse ele ao Al-Monitor. “É difícil acreditar que o governo esteja satisfeito em deixar isso se desenvolver até outubro. Muita coisa pode acontecer.” 

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