Suécia repudia ‘islamofobia’ em queima do Alcorão perto de mesquita de Estocolmo

Após protesto de um órgão islâmico internacional, governo sueco solicitou medidas para evitar que ações do gênero se repitam

O governo sueco expressou no domingo (2) sua condenação à queima de um exemplar do Alcorão nas proximidades da principal mesquita de Estocolmo na última quarta-feira (28), caracterizando o ato como “islamofóbico”. A postura foi adotada em resposta ao apelo de um órgão islâmico internacional, que solicitou a implementação de medidas para prevenir ocorrências semelhantes no futuro. As informações são da rede France 24.

“O governo sueco compreende totalmente que os atos islamofóbicos cometidos por indivíduos durante manifestações na Suécia podem ser ofensivos”, disse o Ministério das Relações Exteriores local em comunicado oficial. “Nós condenamos veementemente esses atos, que de forma alguma refletem as opiniões do governo sueco.”

A resposta veio após um apelo da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC), sediada na Arábia Saudita, por medidas coletivas para prevenir futuras queimas do Alcorão.

Rasmus Paludan queima o Alcorão do lado de fora da embaixada turca em Estocolmo em janeiro de 2023 (Foto: WikiCommons)

A organização composta por 57 membros se reuniu em sua sede em Jeddah para abordar o incidente da semana passada, quando um cidadão iraquiano residente na Suécia pisou no sagrado livro islâmico e queimou várias páginas.

O autor da manifestação foi Salwan Momika, um refugiado iraquiano de 37 anos. Ele solicitou autorização às autoridades, que concederam, para a realização da a queima do Alcorão, com o objetivo de “expressar sua opinião” sobre o livro sagrado muçulmano.

A OIC instou os Estados-Membros a adotarem “medidas unificadas e coletivas para evitar a repetição de incidentes de profanação de cópias do Alcorão”, conforme afirmado em um comunicado divulgado após a reunião “extraordinária”.

“A queima do Alcorão, ou de qualquer outro texto sagrado, é um ato ofensivo e desrespeitoso e uma clara provocação. Expressões de racismo, xenofobia e intolerância correlata não têm lugar na Suécia ou na Europa”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores sueco.

A pasta também ressaltou que a Suécia possui o direito constitucionalmente protegido à liberdade de reunião, expressão e manifestação.

Embora a polícia sueca tenha concedido a Momika permissão, com base na proteção à liberdade de expressão, as autoridades posteriormente anunciaram a abertura de uma investigação por “incitação contra um grupo étnico”. Isso se deve ao fato de o manifestante ter queimado páginas do livro sagrado islâmico nas proximidades da mesquita.

Ao contrário de outros países, a Suécia geralmente permite protestos, mesmo aqueles que podem ser considerados provocativos.

Entretanto, o gesto pode prejudicar ainda mais as pretensões suecas de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), já que a Turquia, que está atrasando a candidatura pendente, criticou a ação. Já o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, classificou o ato como “desprezível”.

A queima do Alcorão se tornou ato recorrente entre militantes de extrema direita no país escandinavo, sendo associada ao político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na capital do país em janeiro e gerou um mal-estar diplomático. No entanto, Paludan não estava envolvido na ação ocorrida na quarta-feira.

Mal-estar diplomático no Irã

Em resposta ao incidente de queima do Alcorão, países como Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Marrocos convocaram os embaixadores suecos em protesto.

Já o governo iraniano recusou-se a enviar um novo embaixador à Suécia. Segundo a rede BBC, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, responsabilizou o governo sueco por ter concedido permissão para o protesto.

Amirabdollahian afirmou que, apesar da nomeação de um novo embaixador, Teerã não o enviaria.

“O processo de envio foi adiado devido à concessão pelo governo sueco de permissão para profanar o Alcorão Sagrado”, afirmou ele em um comunicado no Twitter.

Além disso, o Ministério das Relações Exteriores do Iraque solicitou ao seu equivalente sueco a extradição do homem que queimou o Alcorão. Eles argumentaram que, uma vez que ele ainda possui cidadania iraquiana, deveria ser julgado em Bagdá.

Para os muçulmanos, o Alcorão é reverenciado como a palavra sagrada de Deus, e qualquer forma de dano intencional ou demonstração de desrespeito é amplamente considerada como profundamente ofensiva.

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