Mísseis norte-coreanos geram sanções à Rússia e oferecem vantagem estratégica aos EUA

Artefatos foram disparados em ao menos duas ocasiões contra a Ucrânia e agora poderão ser melhor analisados pelos países ocidentais

O Departamento de Estado norte-americano anunciou na quinta-feira (11) novas sanções contra Moscou. Desta vez, os alvos foram três entidades e um indivíduo acusados de participação na transferência de mísseis balísticos da Coreia do Norte para a Rússia. Paralelamente, Washington trabalha para tirar vantagem do episódio, usando os artefatos para melhor entender as Forças Armadas do país asiático.

“A transferência de mísseis balísticos da RPDC (República Democrática Popular da Coreia) para a Rússia apoia a guerra de agressão da Rússia, aumenta o sofrimento do povo ucraniano e mina o regime global de não-proliferação”, disse o Departamento de Estado ao anunciar as sanções.

No início deste mês de janeiro, o The Wall Street Journal (WSJ) noticiou que Pyongyang havia fornecido mísseis de curto alcance a Moscou. Na semana passada, segundo a rede CNN, a Casa Branca disse que os artefatos não apenas haviam sido entregues, mas em ao menos duas ocasiões foram disparados contra o território ucraniano, em 30 de dezembro e 2 de janeiro.

“Devido, em parte, às nossas sanções e controles de exportação, a Rússia tornou-se cada vez mais isolada no cenário mundial e foi forçada a recorrer a Estados com ideias semelhantes em busca de equipamento militar”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, ao revelar os disparos. “Como alertamos publicamente, um desses Estados é a Coreia do Norte.”

Forças armadas da Rússia disparam míssil durante a guerra da Ucrânia, abril de 2022 (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Embora tenha imposto sanções e condenado o acordo entre os aliados, Washington pode tirar vantagem do ocorrido. Joseph Dempsey, investigador no setor de Defesa do think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse à CNN no início do mês que os destroços e o resultado dos ataques devem ser estudados para melhor entender o arsenal norte-coreano.

Como Pyogyang mantém sigilo absoluto sobre seus mísseis, habitualmente disparados somente em testes, o uso deles em situação real de combate pode oferecer novas informações ao governo norte-americano, uma vantagem estratégica em caso de um eventual conflito.

“Será interessante ver como estes mísseis funcionam num ambiente mais operacional e fora da máquina de propaganda da Coreia do Norte, particularmente qualquer indicação de precisão e, de fato, dos sistemas de orientação utilizados”, disse Dempsey.

Por sua vez, Ankit Panda, pesquisador do think tank Carnegie Endowment for International Peace, afirmou que mesmo Pyongyang pretende analisar suas armas em ação.

“Em termos técnicos, suspeito que os norte-coreanos estarão bastante interessados ​​em saber como os seus mísseis se comportam contra os sistemas ocidentais de defesa antimísseis”, disse ele.

Munições norte-coreanas na Rússia

Antes mesmo da revelação feita pelo WSJ, Washington já havia alegado que Pyongyang vinha equipando as Forças Armadas russas no conflito. Embora o fornecimento de mísseis fosse novidade, havia indícios de que munições norte-coreanas tinham sido entregues a Moscou.

Em outubro de 2023, imagens de satélite coletadas pela empresa civil norte-americana Planet Labs indicaram movimentação intensa em um pátio ferroviário norte-coreano a apenas cinco quilômetros da fronteira russa, um sinal de que os dois países vinham realizando transações comerciais.

As fotos não permitem afirmar que há armas ou munições sendo carregadas, mas especialistas citados pela rede Radio Free Asia (RFA) disseram que é possível fazer tal presunção.

Eles usaram como argumento o fortalecimento recente da aliança entre os países, a necessidade crescente de Moscou de equipar seus soldados e o encontro entre os presidentes Kim Jong-un e Vladimir Putin poucos dias antes de as imagens terem sido registradas.

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