Nancy Pelosi diz que presidente chinês é um ‘valentão assustado’ e bota mais lenha na fogueira da crise

"Só porque Xi Jinping tem suas próprias inseguranças, não significa que vou deixar que ele faça minha agenda", disse à TV americana a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA

“Inseguro”. Assim se referiu ao presidente chinês Xi Jinping a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, durante entrevista na terça-feira (9) ao programa “Today”, da rede NBC. Mais tarde, em outra emissora, ela comparou a alegada insegurança de Xi à de “um valentão assustado”. As informações são da rede Bloomberg.

As críticas refletem a atmosfera pós-visita de Pelosi a Taiwan na semana passada, que gerou um estresse geopolítico que afetou até empresas chinesas e agravou a crise diplomática entre Washington e Beijing.

À jornalista Savannah Guthrie, da NBC, Pelosi disse que os membros do Congresso não serão intimidados por Beijing por conta de sua viagem à ilha semiautônoma. “Só porque Xi tem suas próprias inseguranças, não significa que vou deixar que ele faça minha agenda”, disse.

Antes da visita, a China prometeu aos EUA uma resposta “forte e resoluta”, já que viagens de autoridades estrangeiras a Taiwan são interpretadas como um reconhecimento da soberania do território. Após a partida de Pelosi, Xi Jinping ordenou a realização de exercícios militares ao redor de Taiwan – inclusive com testes de mísseis –, comportamento que sugeriu uma demonstração de força.

A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi (Foto: WikiCommons)

Durante a conversa, Savannah quis saber da democrata se a viagem, que gerou um ruído estrondoso entre as nações, teria valido a pena. A entrevistada foi resoluta: “Absolutamente, sem qualquer dúvida”.

Ela também destacou o alinhamento inclusive com o rivais do Partido Republicano na questão. “Tenho apoio bipartidário esmagador para nossa visita a Taiwan, como presidente da Câmara e com a ilustre delegação com a qual estive lá. Fomos muito bem recebidos. Milhares de pessoas nas ruas”. E acrescentou: “O que os chineses estão fazendo é o que eles costumam fazer”.

Mais tarde, Pelosi apareceu no Morning Joe, da rede MSNBC, onde falou que Xi Jinping estaria vivendo uma “crise de fragilidade”. “Ele tem problemas com sua economia. Ele está agindo como um valentão assustado”, disse ela.

Pelosi se tornou a autoridade de mais alto escalão dos EUA em 25 anos a visitar a ilha. Desde então, os exercícios militares perto da ilha se tornaram mais intensos, incluindo o voo de dezenas de aviões pela chamada Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ, da sigla em inglês) do Estreito de Taiwan, o que tem aumentado os temores sobre um confronto. 

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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