Relatório aponta abusos cometidos pelo governo do Canadá contra imigrantes

Violação de direitos atinge inclusive pessoas com deficiência e outras que fogem da violência em seus próprios países

Um relatório conjunto da organização HRW (Human Rights Watch) e da Anistia Internacional, divulgado nesta quinta-feira (17), aponta uma série de abusos cometidos pelo governo do Canadá contra imigrantes. Inclusive contra pessoas com deficiência. 

O documento, de 100 páginas, afirma que pessoas detidas pelo sistema de imigração canadense, incluindo aquelas que fogem de perseguição em seus países de origem, “são regularmente algemadas e mantidas com pouco ou nenhum contato com o mundo exterior”. A detenção pode durar meses ou até anos, segundo as entidades. 

“O sistema abusivo de detenção por imigração do Canadá contrasta fortemente com a rica diversidade e os valores de igualdade e justiça pelos quais o país é conhecido globalmente”, afirmou a secretária-geral da Anistia Internacional do Canadá, Ketty Nivyabandi.

Relatório aponta abusos cometidos pelo governo do Canadá contra imigrantes
Imigração no Canadá (Foto: Flickr)

As pessoas recolhidas pelo serviço de imigração não sofrem nenhuma acusação criminal, mas isso não as livra de passar pelo sistema carcerário canadense. “Muitos são mantidos em prisões regionais com população prisional regular e são frequentemente sujeitos a confinamento solitário”, diz o relatório. 

Depoimento

“Eu senti como se meu mundo estivesse acabando. Não me disseram o que estava acontecendo, nem o que eu tinha feito de errado”, relatou uma mulher proveniente da África, detida em 2019 e entrevistada para a elaboração do documento. 

Ela conta que sua condição de refugiada nunca foi levada em conta. “Eu disse [à oficial de imigração] tudo o que tinha acontecido comigo no meu país e como fugi para salvar a minha vida. Mas ela não conseguiu me entender e não me deixou explicar. Pensei que talvez tivesse sido melhor ficar e morrer em casa”. 

O documento tem como base 90 entrevistas feitas pelas entidades. Foram ouvidas pessoas que passaram pela detenção, bem como seus familiares, além especialistas em saúde mental, acadêmicos, advogados, representantes da sociedade civil e funcionários do governo. 

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