Terrorismo coloca a Europa em alerta após ataques mortais e ameaças de bomba

Atentados na Bélgica e na França e ameaças de bomba trouxeram de volta um medo que esteve adormecido nos últimos anos

Nas últimas semanas, a ameaça terrorista voltou a pairar sobre a Europa, palco de dois ataques com vítimas fatais e alertas de bomba que levaram à evacuação de algumas das mais importantes atrações turísticas do continente. O problema surge em maio ao conflito entre Hamas e Israel, que gerou uma onda de antissemitismo em todo o mundo e levou governos ocidentais a avisarem seus cidadãos sobre os riscos redobrados de atentados.

O continente europeu já havia ampliado o alerta em agosto, após protestos realizados na Suécia que incluíram a queima de cópias do Alcorão, o livro sagrado do Islamismo. Na ocasião, os Estados Unidos e o Reino Unido alertaram seus cidadãos para o perigo terrorista no país escandinavo, que por sua vez elevou ao segundo nível mais alto seu alerta nacional.

Foi justamente a queima do Alcorão que teria motivado um ataque terrorista realizado na segunda-feira (16) em Bruxelas. Em vídeo publicado na internet, o agressor se identificou como Abdesalem Al Guilani e disse ter se inspirado no Estado Islâmico (EI), que mais tarde confirmou a alegação. Ele fez referência aos protestos ao dizer que o Alcorão é “uma linha vermelha” pela qual estaria “pronto para se sacrificar.”

O terrorista usou um rifle para matar dois cidadãos suecos que estavam em Bruxelas para um jogo de futebol entre a seleções belga e sueca. Uma das vítimas inclusive vestia a camisa de jogo da Suécia, o que aparentemente ajudou o agressor a identificá-lo.

Polícia francesa em ação nas ruas de Paris: alerta para a ameaça terrorista (Foto: Flickr)

O primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson confirmou tal análise durante entrevista coletiva concedida em Estocolmo. “Tudo indica que se trata de um ataque terrorista contra a Suécia e cidadãos suecos, só porque são suecos”, disse ele, segundo a agência Reuters. “Esses terroristas querem nos assustar e nos levar à obediência e ao silêncio. Isso não vai acontecer.”

Entretanto, o líder sueco admitiu que o perigo aumentou e que “este é um momento para mais segurança.” E acrescentou: “Não podemos ser ingênuos.”

O Serviço de Segurança da Suécia, popularmente conhecido como SAPO, emitiu um comunicado afirmando que “a avaliação da ameaça contra a Suécia mudou gradualmente, e a ameaça de ataques sobretudo do extremismo islâmico violento aumentou.” O mesmo texto afirma que a situação é “grave” e que o risco se manterá elevado “por um período considerável.”

A França também foi palco de um atentado recentemente, bem como de uma série de ameaças de bomba. Na sexta-feira (13) da semana passada, um jovem de 20 anos usou uma faca para assassinar uma professora em Arras, cidade do norte da França. Em vídeo gravado antes do ataque, ele fez breve referência ao conflito no Oriente Médio e disse agir em nome do EI.

O presidente Emmanuel Macron, após o ataque ocorrido na Bélgica, repetiu o alerta feito pelo premiê sueco. “Vimos isso novamente ontem em Bruxelas. Todos os Estados europeus são vulneráveis​ ,​e há de fato um ressurgimento do terrorismo islâmico”, disse o francês.

Além do ataque, a França tem sido alvo de ameaças de bomba falsas. Na terça-feira, o Palácio de Versalhes, em um subúrbio de Paris, foi evacuado pela segunda vez em cinco, com centenas de visitantes forçados a deixar as dependências, da mesma maneira que havia ocorrido no sábado (14). O mesmo aconteceu no Museu do Louvre, que recebe cerca de 30 mil visitantes por dia e teve que fechar as portas devido a um falso alerta de atentado terrorista.

“A segurança máxima está em vigor. Não cederemos ao terror”, disse a ministra da Cultura da França, Rima Abdul Malak, de acordo com o jornal The Guardian.

Alertas falsos foram igualmente responsáveis pelo fechamento de 15 aeroportos em todo o país, com 130 voos cancelados até sexta-feira (20) segundo a rede Voice of America (VOA). Devido às ameaças não confirmadas, o ministro do Interior Gerald Darmanin disse na quinta-feira (19) que 18 pessoas foram detidas, a maioria menores de idade.

Segundo ele, os alertas “desorganizam nossos serviços de segurança e obviamente impedem o funcionamento da sociedade”, representando “um risco enorme no caso de um problema (real)”. Ele prometeu não poupar esforços para punir os responsáveis. “Digo aos que estão ouvindo: encontraremos todos.”

Na Itália, as autoridades prenderam nas imediações de Milão dois indivíduos, um egípcio e um italiano de origem egípcia, acusados de ligação com o EI, de acordo com a Reuters. O caso não teve relação com os atentados na França e na Bélgica e foi fruto de dois anos de investigação. Os detidos são acusados de difundir propaganda extremista.

Antissemitismo em alta

França, Alemanha e Reino Unido adotaram nas últimas semanas medidas de segurança para proteger especificamente a comunidade judaica, conforme cresce o antissemitismo. “Deve haver tolerância zero com o antissemitismo ou a glorificação do terrorismo nas ruas da Grã-Bretanha”, afirmou a secretária do Interior britânica, Suella Braverman, segundo a rede CNN.

Em Berlim, a preocupação se mostrou justificada após dois coquetéis molotov serem atirados contra uma sinagoga, conforme reportou a CNN. “Ataques contra instituições judaicas, motins violentos nas nossas ruas – isto é desumano, repugnante e não pode ser tolerado”, declarou o chanceler Olaf Scholz através do X, antigo Twitter. “O antissemitismo não tem lugar na Alemanha. Os meus agradecimentos às forças de segurança, especialmente nesta situação.”

Com a Europa em alerta, os Estado Unidos também decidiram redobrar a atenção. “A história tem testemunhado o antissemitismo e outras formas de extremismo violento durante muito tempo”, disse Christopher Wray, diretor do FBI, a polícia federal norte-americana, em comunicado. “Neste ambiente intensificado, não há dúvida de que estamos assistindo a um aumento nas ameaças denunciadas e temos de estar atentos, especialmente aos atores solitários que possam se inspirar em acontecimentos recentes para cometerem a sua própria violência.”

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