Trump mira Groenlândia e Canal do Panamá em nova estratégia de expansão territorial dos EUA

Disputas envolvendo recursos estratégicos e soberania reacendem debates sobre os limites da política externa norte-americana

Nos últimos dias, Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, voltou a levantar questões controversas sobre a expansão territorial americana, sugerindo o interesse em adquirir a Groenlândia e questionando os valores cobrados no uso do Canal do Panamá. As informações são do jornal The New York Times.

Em relação à Groenlândia, Trump justificou seu interesse no território citando a importância estratégica da região no Ártico, especialmente diante do derretimento das geleiras, que abre novas rotas comerciais e amplia a competição naval. Além disso, ele destacou as vastas reservas de minerais raros essenciais para tecnologias avançadas.

“Para propósitos de segurança nacional e liberdade em todo o mundo, os Estados Unidos consideram a posse e controle da Groenlândia uma necessidade absoluta”, declarou o presidente eleito em suas redes sociais.

Donald Trump: expansão territorial faz parte dos planos de governo (Foto: WikiCommons)

A resposta da Groenlândia foi imediata e firme. “A Groenlândia é nossa. Não estamos à venda e nunca estaremos. Não podemos perder nossa longa luta pela liberdade”, afirmou o primeiro-ministro Mute B. Egede.

Já o governo dinamarquês, que controla os assuntos externos e de defesa da ilha, evitou comentários incisivos, dizendo apenas que espera trabalhar com a nova administração americana.

Trump também voltou sua atenção ao Canal do Panamá, criticando os custos cobrados pelo governo panamenho para a passagem de navios americanos e sugerindo que os valores representam um “roubo” ao país. Ele chegou a ameaçar reverter o tratado de 1977 que devolveu o controle do canal ao Panamá.

José Raúl Mulino, presidente panamenho, respondeu em um vídeo. “Cada metro quadrado do Canal do Panamá e de suas zonas adjacentes é parte do Panamá e continuará sendo. Nossa soberania e independência não são negociáveis”, afirmou a autoridade.

Especialistas veem as declarações de Trump como uma releitura agressiva do conceito de “América em Primeiro Lugar”, mais próxima de um expansionismo histórico do que de uma visão isolacionista.

O desejo de Trump pela Groenlândia não é novo, e já em 2019 ele pressionava a Dinamarca sobre o tema. Segundo Marc Jacobsen, especialista em segurança no Ártico, a insistência pode abrir oportunidades para a Groenlândia fortalecer laços econômicos com os EUA, mesmo sem ceder soberania. Ele destaca que muitos habitantes defendem a independência, assim tendem a se aproveitar da oportunidade.

Além do apelo estratégico, o interesse na Groenlândia remonta a um desejo antigo de presidentes americanos. Após a Segunda Guerra Mundial, Harry Truman já havia tentado adquirir o território como parte da estratégia de contenção soviética.

“Foi loucura quando os EUA adquiriram o Alasca? Foi loucura quando os EUA construíram o Canal do Panamá?”, questionou Sherri Goodman, especialista em segurança climática. Ainda de acordo com ela, o interesse norte-americano em boa parte tem como objetivo impedir que a China amplie sua presença no Ártico.

Apesar das aspirações de Trump, barreiras diplomáticas e culturais permanecem. David L. Goldwyn, ex-funcionário do Departamento de Estado, destacou que os recursos minerais da Groenlândia têm potencial de reduzir a dependência global em relação à China. Mas alertou que a população local, sobretudo os povos originários, não aceita a exploração.

“Certamente, se a Groenlândia decidisse desenvolver esses recursos, isso forneceria uma alternativa significativa à China, embora seja a capacidade da China de processar esses minerais que lhe dá sua vantagem atual”, disse. “Mas é altamente improvável que a extração de recursos possa ser forçada a uma população relutante.”

Já no caso do Panamá, a retórica de Trump pode ter raízes pessoais. Em 2018, a Organização Trump foi retirada de um hotel na Cidade do Panamá após uma disputa judicial, resultando na remoção do nome da família do empreendimento. O episódio teria deixado um resquício de ressentimento.

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