A mais recente decisão do governo Biden contra a Huawei é forte: o Departamento de Comércio norte-americano decidiu suspender a emissão de licenças de exportação de tecnologia “made in USA” para a empresa chinesa. A gigante das telecomunicações enfrenta crescente desconfiança global por conta de temores que Beijing possa usá-la para espionagem, e Washington não tem poupado esforços para tentar contornar o problema. As informações são do jornal The Financial Times (FT).
A medida, que afasta da Huawei fornecedores de peso como Intel e Qualcomm, marca uma nova etapa da campanha de Washington para cortar laços com a empresa de tecnologia com sede em Shenzhen, que já foi banida da construção de redes 5G em diversos países.
Para se ter uma ideia, a Intel fornece à Huawei processadores usados em sua linha de laptops MateBook, enquanto a Qualcomm vende processadores e modems que são os principais componentes de seus modelos de smartphones.
Da China, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, reagiu ao anúncio em entrevista coletiva nesta terça-feira (31). “A China está profundamente preocupada”, disse ela.
A desconfiança ocidental com a Huawei é baseada na suposta proximidade da companhia com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar a gigante da telefonia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
“A China se opõe firmemente à generalização dos Estados Unidos do conceito de segurança nacional, abuso do poder do Estado e repressão irracional de empresas chinesas”, acrescentou Mao, observando que tal medida “violaria as regras econômicas e comerciais internacionais”.
Os negócios de empresas americanas com a Huawei estão limitados há quatro anos, desde a era Trump, quando o ex-chefe da Casa Branca adicionou a empresa à chamada “lista de entidades” dos EUA por questões de segurança nacional. Desde então, os fornecedores dos EUA precisam de aprovação do governo para vender para a multinacional chinesa.
Especialistas do setor avaliam que ainda é muito cedo para avaliar o impacto dessas medidas mais recentes nos negócios Huawei.
“É claro que uma parada geral indefinida seria catastrófica para a Huawei, mas o resultado de qualquer coisa menos do que isso poderia ser bem diferente”, disse um especialista jurídico envolvido em pedidos de licença de exportação ouvido pela reportagem do FT.
Receita impactada
Paul Triolo, especialista em tecnologia da China da Albright Stonebridge, consultoria para empresas com investimentos no exterior fundada pela ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright, enxerga impactos adiante. Segundo ele, o Departamento de Comércio provavelmente também irá revogar todas as licenças anteriores concedidas para exportações para a Huawei.
“Isso terá um grande impacto na receita de fornecedores dos EUA principalmente para semicondutores de commodities”, disse Triolo.
A gigante chinesa nega alegações de espionagem para o governo, e seu fundador e CEO já declarou inúmeras vezes que a empresa nunca entregaria dados a Beijing.
A “guerra fria” tecnológica entre Beijing e Washington tem outros desdobramentos, inclusive militares. Em dezembro do ano passado, por exemplo, os Estados Unidos adicionaram 36 empresas chinesas de tecnologia à lista de sanções, medida que sinaliza que Washington está conduzindo esforços para restringir ainda mais as ambições da China no mercado de chips.
Entre as metas também está desacelerar o esforço chinês para desenvolver semicondutores usados para inteligência artificial, modelagem de armas nucleares e desenvolvimento de armas hipersônicas.
A Huawei se recusou a comentar os relatórios, enquanto o Departamento de Comércio dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário feito pela reportagem.