Estados Unidos adicionam 36 empresas chinesas de tecnologia à lista de sanções

Medida sinaliza que Washington está conduzindo esforços para restringir ainda mais as ambições de chips da China

Alegando preocupações com a segurança nacional, interesses da nação e questões de direitos humanos, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos adicionou 36 empresas chinesas de alta tecnologia a uma lista de sanções de controle de exportação na quinta-feira (15). Nela estão incluídos fabricantes de equipamentos de aviação, produtos químicos e chips de computador. As informações são da rede Radio Free Asia.

Entre as empresas proibidas de importar componentes dos EUA estão duas das maiores fabricantes de chips da China, a Yangtze Memory Technologies e a Shanghai Micro Electronics Equipment. Ambas passam a figurar na Lista de Entidades do Departamento de Comércio, onde em 2019 foi incluída a gigante das telecomunicações Huawei. A medida impede as empresas americanas de fazer negócios com as marcas sancionadas, a menos que obtenham uma licença.  

A norma sinaliza um comportamento linha-dura de Washington com Beijing, particularmente com os militares do país asiático, impedindo-os de ter acesso a tecnologias avançadas, como chips de computador de ponta e armas hipersônicas. Há um bom tempo o Departamento de Comércio dos EUA vem alertando os exportadores norte-americanos sobre o “risco” dos semicondutores chineses serem utilizados para “uso militar”.

Fábrica de chips de computador no Estado norte-americano do Arizona (Foto: Picryl/Divulgação)

Isso ficou claro no discurso do subsecretário de Comércio para Indústria e Segurança dos EUA, Alan Estevez, que esteve à frente da cobrança das novas regras de exportação. Ele detalhou a proposta em comunicado.

“Hoje estamos desenvolvendo as ações que tomamos em outubro para proteger a segurança nacional dos EUA, restringindo severamente a capacidade da China de alavancar inteligência artificial, computação avançada e outras tecnologias poderosas e comercialmente disponíveis para modernização militar e abusos dos direitos humanos”, disse Estevez.

Ele também citou Moscou e o conflito em andamento no leste europeu. “Este trabalho continuará, assim como nossos esforços para detectar e interromper os esforços da Rússia para obter itens, tecnologias e outros itens necessários para sua guerra brutal contra a Ucrânia, inclusive do Irã”. 

As penalidades às empresas chinesas citadas representam um duro golpe, já que a campanha liderada por Washington para cortar o fornecimento de componentes-chave ao país dificultam o caminho para o desenvolvimento de uma indústria doméstica de fabricação de chips. O resultado disso é um progresso tecnológico limitado de Beijing.

A Shanghai Micro, por exemplo, é a principal fabricante de equipamentos para litografia do país, um processo altamente técnico que usa raios de luz microscópicos para gravar os circuitos dos processadores que alimentam computadores, bens de consumo e armas. 

A notícia também não foi nada boa para a Yangtze Memory, principal fabricante de chips de memória flash da China, que vinha mantendo negociações com a Apple para fornecer chips para o iPhone 14. A empresa controla de 5% a 6% do mercado global nessa área.

Em relação a questões ligadas aos direitos humanos, a Tianjin Tiandi Weiye Technologies também foi sancionada sob acusação de influenciar na vida dos uigures. A justificativa é a de que a empresa está ligada à vigilância estatal de alta tecnologia, detenções e outras violações de minorias étnicas muçulmanas na região de Xinjiang, no noroeste da China.

“Intimidação”, diz China

No início desta semana, a China entrou com uma ação na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os Estados Unidos por conta de suas medidas de controle de exportação de chips de computador. Segundo o Ministério do Comércio chinês, a atitude foi tomada para proteger os “interesses legítimos” de Beijing.

Na quarta-feira (14), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, definiu as o anúncio da lista como “coerção econômica flagrante e intimidação”.

“Os EUA têm ampliado o conceito de segurança nacional, abusando das medidas de controle de exportação, envolvendo-se em tratamento discriminatório e injusto contra empresas de outros países e politizando e armando questões econômicas e de tecnologia científica”, disse Wang, que acrescentou: “Não é do interesse da China, dos EUA ou do mundo inteiro”.  

Por que isso importa?

Uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada tecnologia estratégica é uma das mais afetadas pela “guerra fria” entre China e EUA: a produção de semicondutores.

Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais redutos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Entretanto, um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro de 2020, aponta que a China tem vulnerabilidade nesse setor e ainda depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

A aproximação entre os EUA e a ilha reivindicada pela China também envolve a questão dos semicondutores. A TSCM (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, da sigla em inglês) tem recebido vastos recursos e incentivos para instalar plantas ultrassofisticadas em território norte-americano.

Em paralelo, há pressão de Washington para que as empresas escolham linhas de produção azuis, dos EUA, ou vermelhas, da China. Por isso o papel cada vez mais estratégico da ilha. Mas, caso a China se perceba isolada de componentes vitais para sua produção, há risco de forte reação seguida por impactos nas cadeias globais de produtos, diz o relatório.

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