Em março deste ano, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) abriu o primeiro escritório de coordenação em Bagdá, capital do Iraque. A síria Maha Kattaa foi escolhida como coordenadora da sucursal.
A intenção é apoiar o governo, os trabalhadores e os empregadores do país na promoção de trabalho. A estrutura também auxilia outras agências da ONU em iniciativas para o desenvolvimento da região.
A criação do Gabinete de Coordenação de Programas da OIT é fruto de solicitação do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais do Iraque.
Kattaa conta como foi estruturar o escritório durante a pandemia do novo coronavírus e os desafios de sua quarentena no país desde o início da pandemia de Covid-19. Este depoimento foi publicado, em inglês, originalmente no site da entidade.
100 dias como coordenadora da OIT no Iraque
“Recentemente, completei meus primeiros 100 dias a frente deste trabalho no Iraque. Sou também a especialista em resiliência e resposta a crises da OIT.
Este trabalho – minha mais recente batalha – exige que eu lidere um portfólio de programas multimilionários, promovendo trabalho decente para comunidades vulneráveis, pessoas deslocadas internamente e refugiados sírios, em um país que hospeda centenas de milhares de sírios – inclusive eu.

Vivo e trabalho dentro do complexo das Nações Unidas, na fortificada Zona Verde, que fica na capital, Bagdá. Sou regularmente acordada pelo toque das sirenes quando bombas caem na Zona – algo ao qual ainda não me acostumei. Até agora, deixei o complexo apenas duas vezes para me encontrar com o Ministro do Trabalho e Assuntos Sociais do país.
Agora, graças à situação de segurança e a crise de Covid-19, estou trabalhando de forma remota.
Início dos trabalhos
Minha tarefa começou apenas alguns meses após a assinatura do primeiro Programa do País para Trabalho Decente (do inglês Decent Work Country Programme) do Iraque. Eu estava muito empolgada, pois o Iraque tem um grande potencial para promover a criação de empregos, trabalho e um mercado de trabalho inclusivo.
Depois de anos de conflito, agitação e deslocamento, agora há uma necessidade urgente de programas que apoiem a transição do trabalho humanitário para o desenvolvimento – algo que a OIT se destacou em outras partes da região.
Mas a situação que encontrei era muito diferente das minhas expectativas e percebi que os desafios seriam muito maiores do que eu havia imaginado.
A primeira vez que entrei no “escritório”, fiquei surpresa ao constatar que havia apenas uma mesa e uma cadeira em um espaço aberto, compartilhado com dezenas de outros funcionários da agência da ONU. Eu terminei o primeiro dia me sentindo frustrada e confusa. “Como eu poderia trabalhar em um ambiente assim, onde o movimento fora do complexo era restrito, havia falta de apoio logístico e onde todos os olhos estavam em mim – uma mulher que se lançou neste novo mundo, aparentemente sem qualificações para o sucesso?”.
Na segunda manhã, acordei cedo e comecei a contemplar minhas opções. Eu poderia desistir e sair, ou encontrar maneiras de me adaptar e ter sucesso. Eu decidi por uma abordagem de três pilares:
• Criar um ambiente alternativo que possa abraçar a mim e à missão da OIT;
• Aproveitar ao máximo as comunicações virtuais;
• Transformar desafios em oportunidades de sucesso;
O surto de Covid-19 significava que eu não podia mais ir ao meu cubículo de escritório. Em casa, arrumei uma mesa na minha pequena sala de estar e pendurei um mapa do Iraque na parede atrás de mim.
Com essa pequena e humilde instalação, comecei a pensar em como poderia transformar esse momento de turbulência, incerteza e reclusão em uma história de sucesso.
Transformação
Apesar dos arranjos incomuns, muito foi alcançado. Concluí quatro avaliações do impacto da pandemia sobre trabalhadores e empresas no Líbano, Jordânia e Iraque, além de um relatório sobre o impacto nos refugiados sírios.
Projetei e preparei projetos no valor de US$ 40 milhões para promover trabalho e emprego decente na Jordânia, Líbano e Iêmen, além do Iraque. Também participei remotamente de mais seminários e entrevistas na TV, destacando o trabalho da OIT e o impacto do Covid-19 nos mercados de trabalho regionais.
Também assinamos dois memorandos de entendimento com o Ministério do Trabalho da Jordânia e mais de seis acordos com outras agências governamentais e nacionais na Jordânia e no Iraque.
Ao relembrar meu primeiro dia e minha reunião com a autoridade da ONU que duvidou de mim, tenho orgulho de ter provado que ela estava errada.
Eu consegui o que há 100 dias parecia impossível. A missão da OIT no Iraque agora é uma realidade e, com o nosso mandato de promover trabalho decente e justiça social, sinto que estamos no caminho certo para ajudar as pessoas mais vulneráveis daqui.
Maha Kattaa é coordenadora do Gabinete de Coordenação de Programas da OIT no Iraque