O governo de Fiji está em processo de revisão de um acordo de cooperação policial com a China, conforme anunciado pelo primeiro-ministro do país. A reavaliação destaca o desafio de equilibrar a dependência econômica em relação à superpotência asiática com os laços de segurança com Washington. As informações são da rede Radio Free Asia.
O primeiro-ministro Sitiveni Rabuka, que assumiu o cargo após uma eleição em dezembro que rompeu o domínio de 16 anos de Frank Bainimarama, acusado de crescente autoritarismo, enfatizou os valores compartilhados com democracias como Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, que são aliados de Fiji. Além disso, seu governo concedeu um status mais elevado ao escritório de representação de Taiwan em Fiji, mas até o momento não houve uma mudança fundamental nas relações com Beijing.
Durante uma visita oficial à capital da Nova Zelândia, Wellington, nesta semana, Rabuka afirmou que, ao assumir o governo, era necessário “avaliar as atividades de cooperação policial em andamento”. Ele questionou a viabilidade da cooperação se os valores e sistemas entre as partes diferem.
Assinado em 2011, o acordo previa o treinamento de policiais fijianos na China e a presença temporária de agentes chineses em Fiji. Em setembro de 2021, a imprensa local divulgou planos para estabelecer um oficial de ligação permanente da polícia chinesa no arquipélago da Oceania.
“Precisamos examinar esse acordo novamente antes de decidirmos se voltaremos a ele ou continuaremos do jeito que fizemos no passado, cooperando com aqueles que têm valores e sistemas democráticos semelhantes, legislação, aplicação da lei e assim por diante”, disse Rabuka.
Ao longo das últimas décadas, a China se tornou uma fonte significativa de comércio, infraestrutura e auxílio para os países insulares em desenvolvimento no Pacífico. Essa abordagem chinesa busca isolar diplomaticamente Taiwan e estabelecer suas próprias instituições globais.
Uma tentativa da China de firmar um acordo comercial e de segurança com dez nações insulares do Pacífico em maio do ano passado, que cobriria policiamento, pesca e cibersegurança, alimentou a preocupação de Washington e Camberra sobre as ambições militares chinesas na região e estimulou a ajuda ocidental.
As relações entre Beijing e Fiji se fortaleceram especialmente após a tentativa de punição por parte de Austrália, Nova Zelândia e outros países devido ao golpe liderado pelo então comodoro Bainimarama em 2006, à época chefe do Exército de Fiji, que assumiu o controle do país e destituiu o governo eleito do primeiro-ministro Laisenia Qarase. Esse golpe resultou na suspensão da Constituição, a dissolução do Parlamento e a instauração de um governo militar interino.
Esse foi o quarto golpe ocorrido em Fiji ao longo de três décadas, sendo que Rabuka foi responsável por dois atentados à democracia no final dos anos 1980.
Ilhas Salomão
No ano passado, a China assinou um pacto de segurança com as Ilhas Salomão, o que gerou preocupações por parte dos EUA e seus aliados, incluindo a Austrália. Além disso, em 2019, as Ilhas Salomão e Kiribati mudaram seu reconhecimento diplomático de Taiwan.
A embaixada chinesa em Fiji afirmou que a China mantém cooperação militar e policial com várias nações em desenvolvimento, mesmo quando possuem sistemas políticos diferentes dos da China.
A China fornece treinamento extensivo e equipamentos, como veículos e canhões de água, para a polícia das Ilhas Salomão. O vice-comissário de polícia da nação insular, Ian Vaevaso, divulgou um comunicado em 31 de maio informando que 30 policiais do país estavam na China para treinamento, além de mais de 30 que foram enviados ao Colégio de Polícia de Fujian no ano passado.
Desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro, Rabuka tem expressado preocupação em relação à cooperação policial com Pequim. Ele afirmou em janeiro, de acordo com uma reportagem do Fiji Times: “Não há necessidade de continuarmos, nossos sistemas são diferentes”.
O Indo-Pacífico tem preocupações com a influência da China, que aumentou vertiginosamente de uns tempos para cá. No entanto, o governo chinês rechaça essas alegações, sustentando que o acordo está concentrado na segurança, especialmente no suporte policial e militar.