Alerta de Biden sobre ‘fim do regime’ norte-coreano gera resposta enérgica da irmã do ditador

Kim Yo-Jong chamou presidente dos EUA de "velho sem futuro" após Washington e Seul fortalecerem compromisso nuclear e prometerem uma ação "esmagadora" no caso de um ataque nuclear norte-coreano

Kim Yo-Jong, a irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, chamou o presidente dos EUA, Joe Biden, de “velho sem futuro” no sábado (29), à medida que as tensões aumentam entre os dois países. As informações são da rede Radio Free Asia.

O insulto veio em meio a uma crítica sobre um acordo firmado na semana passada entre Washington e a Coreia do Sul para proteger Seul dos vizinhos do Norte, ocasião em que o chefe da Casa Branca disse que qualquer ataque nuclear norte-coreano pode “resultar no fim” do regime de Pyongyang.

O acordo, chamado de “Declaração de Washington”, foi anunciado durante a visita de Estado do presidente Yoon Suk Yeol a Washington no último dia 26, e permite que os EUA usem suas armas nucleares para evitar que Kim ataque. Biden reiterou que tinha “autoridade absoluta como comandante-em-chefe e autoridade exclusiva para usar uma arma nuclear”. 

No acordo, Biden prometeu enviar submarinos de mísseis balísticos nucleares para atracar na costa da Coreia do Sul em troca do país não construir seu próprio arsenal nuclear.

Kim Yo Jong, segunda pessoa mais poderosa dentro da fechada nação insular (Foto: WikiCommons)

Kim Yo-Jong, que é uma das principais autoridades de política externa em seu país, chamou o acordo de “vontade de ação hostil e agressiva” contra a Coreia do Norte em um artigo que assinou para o site da agência estatal de notícias KCNA.

“A ‘Declaração de Washington’ fabricada pelas autoridades norte-americanas e sul-coreanas é um produto típico de sua política extremamente hostil anti-RPDC, refletindo a vontade de ação mais hostil e agressiva”, disse ela. 

O texto segue com críticas a Biden, fazendo menção a um alegado processo patológico de envelhecimento do presidente dos EUA.

“Não podemos deixar passar nem ignorar é o fato de que o chefe do Executivo do estado inimigo usou oficialmente e pessoalmente a palavra ‘fim do regime’ sob os olhos do mundo”, disse ela. “Nós simplesmente consideraríamos isso como a senilidade do homem?”.

Se o alerta norte-americano irritou as autoridades norte-coreanas, por outro lado, agradou secretamente jovens e estudantes da fechada nação insatisfeitos com o regime de Kim, segundo apurou a reportagem com algumas fontes.

“Jovens universitários e intelectuais estão atentos ao anúncio do presidente dos EUA, que alertou que a Coreia do Norte veria o fim de seu regime se usasse armas nucleares”, disse sob condição de anonimato uma fonte na província de Pyongan do Norte.

De acordo com o relator, há intelectuais e universitários se dizendo “contentes” que as lideranças de Washington e Seul tenham feito o alerta após assinarem o pacto de segurança. 

“Notícias sul-coreanas e internacionais são publicadas nas páginas quatro e cinco do [jornal estatal] Rodong Sinmun, e tanto os jovens quanto os intelectuais estão lendo com interesse”, acrescentou a fonte.

Resposta proporcional

Kim Yo-Jong declarou que a decisão dos EUA de enviar submarinos nucleares aos vizinhos do Sul deu a Pyongyang ainda mais determinação para aumentar sua “dissuasão de guerra nuclear”.

“Quanto mais os inimigos estiverem decididos a encenar exercícios de guerra nuclear, e quanto mais ativos nucleares eles implantarem nas proximidades da península coreana, mais forte o exercício de nosso direito de autodefesa se tornará em proporção direta a eles”, disse ela.

Especialistas baseados na Coreia do Sul antecipam que, sob o pretexto da Declaração de Washington, a Coreia do Norte continuará a exibir suas capacidades nucleares como um ataque preventivo.

A agência AFP repercutiu que a China advertiu Washington e Seul para não “provocar um confronto” com a Coreia do Norte, depois que os presidentes Joe Biden e Yoon Suk Yeol disseram que Pyongyang enfrentaria o “fim” de seu regime se usar seu arsenal nuclear.

População cansada

Lutando para levar comida à mesa e com preocupações mais pontuais de sobrevivência, muitos norte-coreanos estão cansados da dinastia Kim e de sua preocupação com um programa nuclear, disseram fontes dentro do país.

“As pessoas não falam abertamente, mas não são só os jovens. Lá no fundo, muitos moradores estão satisfeitos com a Declaração de Washington”, disse a fonte de Pyonong, que acrescentou: “É porque eles têm rancor da realidade deste país, onde todos os dias você acorda e suspira porque está se preocupando com onde encontrar sua próxima refeição”.

Atravessando uma crônica escassez de alimentos, que vem desde a década de 1990 e foi agravada pelas sanções ocidentais e pela pandemia de Covid-19, a Coreia do Norte está tomando medidas emergenciais para tentar conter o flagelo social da fome. Entre elas, o corte nas rações distribuídas dentro de sua forças armadas, algo que não ocorria desde o começo dos anos 2000. 

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