Anonymous inseriu páginas secretas pró-Taiwan no site da ONU durante o Natal

Hacker diz que objetivo da ação foi promover Taiwan, que a China considera parte de seu território

O Anonymous, grupo de hackers ativistas mais famoso do mundo, invadiu um site da ONU (Organização das Nações Unidas) e carregou secretamente uma série de páginas com “mensagens natalinas” pró-Taiwan no dia 23 de dezembro. As informações são do jornal Taiwan News.

A revelação foi feita pelo usuário do Reddit identificado como Allez-opi_omi, que já havia divulgado outras invasões da organização hacktivista direcionadas a sites do governo chinês. Em uma postagem na rede social, ele fez o upload de nove links que o grupo havia inserido no site da Rede de Migração do órgão. O título da publicação foi “Graças ao Anonymous, Taiwan retorna à ONU mais uma vez antes do Natal!”.

Página inserida pelo Anonymous no site da ONU faz referência a Taiwan (Foto: reprodução)

O primeiro e o segundo links exibem, respectivamente, a bandeira nacional de Taiwan e seu emblema nacional. O terceiro abre um arquivo de áudio que reproduz o hino da ilha semiautônoma.

Já o quarto link abre uma página que mostra super-heróis da Marvel e reproduz a música de Kitty Kallen ‘It’s Been a Long, Long Time’. A música, um hit da big band comandada pela popular cantora dos anos 1940, fala sobre uma mulher que dá as boas-vindas ao marido que retorna da Segunda Guerra Mundial. A canção é frequentemente usada como trilha sonora nos filmes do universo cinematográfico da editora de quadrinhos norte-americana.

O grupo também incluiu um link para um videoclipe que apresenta o rapper malaio Namewee e a cantora australiana Kimberley Chen, em que a dupla canta a música ligada ao gênero Mandopop (abreviação para “música popular mandarim) Fragile, que em mandarim é intitulada “Coração de Vidro”. O vídeo satiriza o Partido Comunista Chinês, debochando de nacionalistas locais.

O sexto link faz menção a um “plano de paz ucraniano”. A mensagem reivindica um referendo sobre a necessidade de se seguir um protocolo de paz no país ou entregar os territórios de Donbass para uma administração de manutenção da paz da ONU. 

O sétimo e o oitavo links consistem em código HTML que exibe o trabalho anterior do grupo. O último é um manifesto postado anteriormente pela filial Anonymous Malaysia, que acusa um influenciador do Instagram e do TikTok de ser um “estuprador em série”.

Allez-opi_omi disse que o objetivo do hack foi “promover Taiwan e também apoiar as vítimas das enchentes na Malásia”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala. Segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

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