Após 50 anos fora da ONU, Taiwan desafia a China em busca de representatividade

Em 1971, ilha deu lugar à China dentro do órgão global. Até hoje busca reconhecimento como nação independente em relação ao governo chinês

Em 1949, quando os comunistas venceram a guerra civil chinesa, as forças republicanas deixaram o país e se instalaram na ilha de Taiwan. À época, o governo exilado liderado por Chiang Kai-shek, a República da China, manteve a cadeira como representante oficial chinês na ONU (Organização nas Nações Unidas). A situação durou até 25 de outubro de 1971, quando uma votação entregou o posto ao governo do Partido Comunista Chinês (CPC). Hoje, 50 anos depois, os taiwaneses ainda lutam por representatividade, mas enfrentam a dura resistência da República Popular da China, que usa sua força comercial e política para bloquear toda e qualquer pretensão nesse sentido.

Para desgosto dos chineses, que tratam, a ilha como parte de seu território, a força diplomática de Taiwan tem aumentado, escorada no apoio financeiro e militar dos Estados Unidos. A verdade é que Washington não tem desperdiçado uma oportunidade de se posicionar contra o governo chinês, em qualquer que seja a questão. E Taiwan tonou-se um capítulo importante nessa disputa geopolítica, o que inclui a luta por reconhecimento como nação autônoma e a consequente filiação à ONU.

Em setembro, dois congressistas norte-americanos, os republicanos Scott Perry e Tom Tiffany, manifestaram apoio para que Taiwan seja reconhecida como membro do órgão. A dupla enviou uma carta à embaixadora do país na ONU, Linda Thomas-Greenfield, na qual manifestou apoio à causa e pediu que ela também colabore, através “da voz, do voto e da influência dos Estados Unidos para garantir a ascensão de Taiwan”.

Também em setembro, Washington deu outra mostra de apoio à causa taiwanesa ao cogitar a mudança no nome de uma agência comercial estatal, de “Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taipé” para “Escritório de Representação de Taiwan”. A mera especulação, com o uso do nome “Taiwan” no título, bastou para gerar uma reação irritada da China, que ameaçou “medidas econômicas e militares” em resposta.

Após 50 anos, Taiwan segue fora da ONU e luta para reconquistar representatividade
Sede da ONU em Genebra, na Suíça (Foto: Wikimedia Commons)

A União Europeia (UE) passou a acompanhar os EUA no processo de aproximação de Taiwan. Na última quinta-feira (21), uma resolução determinou que o bloco aprofunde os laços e trabalhe um acordo de investimento com a ilha semiautônoma. A decisão é um avanço nas relações entre as duas partes, depois que um projeto semelhante foi mantido em suspenso no ano passado.

Como de hábito, a medida gerou reação imediata de reprovação do governo chinês. “O Parlamento da UE deve interromper imediatamente as palavras e ações que minam a soberania e a integridade territorial da China”, disse em Beijing o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin.

O fortalecimento das relações exteriores da ilha levou a China a a apostar em uma resposta belicista. Incursões no espaço aéreo taiwanês têm aumentado, e nos primeiros dias de outubro a força aérea chinesa enviou 149 aeronaves militares à ilha num intervalo de quatro dias. Beijing também divulgou o vídeo de um treinamento de desembarque de tropas e simulações de assalto na praia da província chinesa de Fujian, no estreito de Taiwan. Pela proximidade geográfica, seria um local estratégico de lançamento para qualquer invasão chinesa.

China x Taiwan

Nesta segunda-feira (25), para marcar o 50º aniversário de filiação à ONU, o presidente chinês Xi Jinping fez um discurso no qual pediu maior cooperação global para lutar contra questões como as mudanças climáticas e o terrorismo e os crimes cibernéticos. Sem qualquer menção a Taiwan, segundo a rede britânica BBC

O líder do PCC disse que a decisão de “reconhecer os representantes do governo da República Popular da China como os únicos representantes legítimos da China nas Nações Unidas foi uma vitória para o povo chinês e uma vitória para as pessoas do mundo”.

Taiwan, por sua vez, contou mais uma vez com o apoio dos EUA para marcar posição. No sábado (23), antecipando-se ao discurso de Xi, o Departamento de Estado norte-americano disse que autoridades do país e de Taiwan se reuniram virtualmente para uma “discussão focada no apoio à capacidade de Taiwan de participar de forma significativa na ONU”, segundo a agência Reuters.

“Os participantes dos EUA reiteraram o compromisso dos EUA com a participação significativa de Taiwan na Organização Mundial da Saúde (OMS) e na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e discutiram maneiras de destacar a capacidade de Taiwan de contribuir para os esforços em uma ampla gama de questões”, diz o comunicado do órgão governamental.

O desafio, porém, é enorme, vez que a força da China dentro da ONU só aumenta, bem como sua influência global, essa fortalecida por projetos bilionários de investimento estrangeiro, como a Nova Rota da Seda, que conquistam novos aliados mesmo que artificialmente. A China é um dos maiores financiadores da ONU, aumentando sua contribuição para 12% do PIB em 2019, contra 7,9% em 2018. Hoje, fica atrás apenas dos EUA, com 22%, e deixou para trás o Japão, com 9,7%.

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