Um tribunal de Xinjiang, na China, aplicou penas de sete a 20 anos de prisão a cinco mulheres da minoria uigur de uma mesma família. Elas foram declaradas culpadas por praticarem atividades religiosas “ilegais”, de acordo com uma cópia do veredito, datado de abril de 2019 e recentemente obtido pela rede Radio Free Asia.
Uma idosa, suas três filhas e a nora, todas moradoras de Korla, a segunda maior cidade da região, foram condenadas por “perturbar a ordem pública e incitar o ódio étnico” por “ouvir e fornecer um local para a pregação religiosa ilegal”, de acordo com o documento. As acusações foram apresentadas pela Procuradoria Municipal local.
O veredito ainda menciona uma sexta envolvida também levada sob custódia: Kadirye Memet, acrescentando que seu caso seria tratado separadamente.
Segundo o documento, Halchigul Memet, outra envolvida, teria liderado as mulheres em reuniões religiosas. Ela, que atualmente está exilada, conversou com a reportagem e explicou que as acusadas apenas seguiam os costumes tradicionais uigures e tinham o hábito de se visitarem para falar sobre temas como família e praticar sua religião.
“Costumávamos fazer as visitas semanalmente ou quinzenalmente”, disse ela. “Falávamos sobre como melhorar nossa qualidade de vida e nos ajudávamos a aprimorar nosso conhecimento religioso”.
Halchigul revelou que o grupo nunca teve conversas de cunho político ou antigovernamental. “Nós só conversávamos sobre formas de melhorar nosso bem-estar, o bem-estar de nossa família e como sermos tradicionalmente bons muçulmanos”, relata.
Ela sustenta que o processo e a prisão das mulheres por realizarem reuniões religiosas tradicionais é prova das políticas genocidas de Beijing contra os uigures. “O governo chinês reprimiu esse tipo de reunião simples como um ‘crime’ contra o país”, disse Halchigul.
O documento de sentença foi assinado pelo juiz-chefe Shirali Memet, o juiz Ahmetjan Kurban, o juiz Ibadet Yasin e o escrivão Dilmurat Parhat. Um funcionário do Tribunal Municipal de Korla recusou-se a responder perguntas sobre o caso.
Por que isso importa?
A comunidade uigur habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.
Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.
O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.