Após ser clonado, site japonês derruba piratas chineses com palavras censuradas

Medida usou tags como 'Hong Kong livre' e manipulou de forma sagaz os censores do governo na China, que derrubaram o site pirata

Após ser clonado por falsificadores chineses, um site japonês dedicado à arte e ao mangá contra-atacou inserindo palavras-chave proibidas e hashtags banidas pela censura na China em seu código, numa “jogada de mestre” que fez com que as autoridades em Beijing encerrassem a versão pirata. As informações são da rede Radio Free Asia.

Sediado em Tóquio, o Pixiv é “uma comunidade online para artistas”, como se descreve. A plataforma serve de vitrine para trabalhos dos artistas, oferecendo um sistema de classificação com feedback que permite comentários dos usuários. O site é um fenômeno, ultrapassando 3,7 bilhões de visualizações mensais. Os chineses, então, decidiram fazer uma cópia pirata, mas foram logo derrubados.

A reação partiu de usuários, que adicionaram palavras-chave “sensíveis” às obras de arte disponibilizadas, como por exemplo “Massacre de Tiananmen”, a Praça da Paz Celestial, onde em 1989 o exército chinês repreendeu fortemente um protesto de manifestantes pró-democracia. O assunto é proibido na China continental. As inserções alertaram o sistema de censura maciço apoiado pelo regime do Partido Comunista Chinês (PCC) e acabaram derrubando o site pirata.

Pixiv foi quase que totalmente plagiado em sua versão chinesa (Foto: Twitter/Reprodução)

Outras palavras incluídas foram para atiçar a censura do chamado Grande Firewall da China foram “Hong Kong Livre” e “Independência de Taiwan“, termos terminantemente proibidos na internet do país.

Todo o site havia sido clonado pelos falsificadores chineses, que executaram uma cópia fiel do conteúdo do site, incluindo tradução de tags e títulos para chinês simplificado.

“Os artistas japoneses que estão sendo pirateados no Pixiv foram forçados a tomar essa ação como último recurso para defender seus direitos”, analisou o professor universitário alemão Zhu Rui. “O site pirata foi então fechado pelo punho de ferro do PCC, o que foi ótimo de se ver”.

‘Nação imitadora’

A China possui tradição na apropriação indevida de tecnologia no exterior, algo que gera muito dinheiro a quem comete esse tipo de crime. Na opinião do comentarista cultural da França, Wang Longmeng, o autoritarismo do PCC tem parcela de culpa nisso ao tolher a criatividade e inovação no país.

“Esse tipo de vigilância leva à falta de liberdade e criatividade, então a China, que perdeu a capacidade de inovar, tornou-se a campeã do roubo de propriedade intelectual”, disse Wang. “A reputação da China como uma nação imitadora é bem merecida”.

O Pixiv não é a primeira plataforma a usar esse esquema de represália. YouTubers taiwaneses frequentemente adicionam tags como #WinnieThePooh (Ursinho Pooh, apelido do líder chinês Xi Jinping) em suas publicações, de modo a protegê-los de republicações sem permissão em sites de compartilhamento de vídeos na China.

Entre as tantas questões censuradas na China, a “zoeira” é uma que o regime do presidente Xi Jinping nem sempre consegue controlar. Em 2018, ele chegou a proibir o uso da imagem do Ursinho Pooh, já que o personagem da Disney vinha sendo comparado fisicamente a ele. Não adiantou. Tanto que o urso fictício amado por gerações de crianças virou símbolo de movimentos pró-democracia mundo afora, inclusive no Brasil.

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