Após vitória militar do Azerbaijão, Nagorno-Karabakh deixará de existir em 2024

Presidente da região separatista de maioria armênia assinou decreto que dissolve, a partir de 1º de janeiro, todas as instituições estatais

Samvel Shahramanyan, presidente da região de Nagorno-Karabakh, assinou na quinta-feira (28) um decreto que dissolve, a partir de 1º de janeiro de 2024, todas as instituições estatais. A decisão significa que o enclave deixará de existir e será absorvido pelo Azerbaijão, cuja vitória militar na semana passada encerrou uma disputa que durava três décadas. As informações são do jornal The Washington Post.

A rápida ofensiva azeri acabou com um cessar-fogo mediado pela Rússia, e desde então mais de 60 mil armênios étnicos que viviam na região, que para eles se chama Artsakh, cruzaram a fronteira rumo à Armênia, sob a promessa do governo local de que seriam acolhidos no país.

Os rebeldes armados que enfrentavam as forças do Azerbaijão entregaram as armas, com a garantia de Baku de que seriam perdoados. Porém, muitas autoridades armênias foram detidas, entre elas Ruben Vardanyan, ex-primeiro-ministro do governo separatista

Tropas do exército de Defesa de Nagorno-Karabakh se reúnem diante do prédio da Assembleia Nacional na Praça Renascentista em Stepanakert, capital de fato do enclave, outubro de 2017 (Foto: David Stanley/Flickr)

David Babayan, porta-voz de Artsakh, disse que espera ter o mesmo destino. “Todos vocês sabem que estou incluído na lista de procurados do Azerbaijão e que o lado azeri exigiu minha chegada a Baku para uma investigação apropriada”, disse ele, acrescentando que não tentaria evitar a prisão. “O meu não comparecimento, ou pior, a minha fuga, causará sérios danos ao nosso povo sofredor.”

Entenda a questão

Nagorno-Karabakh é um território ocupado por uma maioria armênia cristã que declarou independência do Azerbaijão, país majoritariamente muçulmano, desencadeando uma guerra que foi de 1992 a 1994. O conflito causou 30 mil mortes e desalojou centenas de milhares de pessoas, com a reivindicação de independência dos armênios não sendo reconhecida por nenhum país.

Desde 1994, o enclave vinha sendo controlado por forças que o Azerbaijão alegava incluir tropas da Armênia, que sempre negou ter militares ali. Após um cessar-fogo estabelecido com a ajuda de Rússia, EUAFrança, um novo conflito armado entre os dois países eclodiu em 2020 e durou 44 dias, com mais 6,5 mil mortos, aproximadamente.

Um novo acordo de paz foi firmado, este mediado pela Rússia, no início de 2021. Mas ele sempre foi visto com desconfiança pela população armênia, e um ataque do Azerbaijão em 19 de setembro de 2023 gerou o temor de que um novo conflito poderia se iniciar.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou que “apenas alvos militares legítimos foram destruídos” no ataque. A Armênia, reforçando que não tinha tropas em Nagorno-Karabakh, alegou que o governo azeri “violou o cessar-fogo ao longo de toda a linha de contato.”

A ação do governo Azerbaijão incluiu mísseis, artilharia e drones turcos Bayraktar para bombardear o território ocupado pelos armênios. Baku alega que reagiu a um ataque vindo das montanhas que teria matado um número não especificado de soldados azeris.

Informações divulgadas por autoridades russas, azeris e armênias indicam que mais de 200 pessoas morreram em razão da ofensiva militar que durou cerca de 24 horas. Entre as vítimas estariam civis, crianças e até dois militares da Rússia, membros das forças de paz de Moscou que atuam na área.

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