O Azerbaijão prendeu nesta quarta-feira (27) Ruben Vardanyan, ex-primeiro-ministro da região disputada de Nagorno-Karabakh. Ele foi detido no momento em que tentava sair do enclave em direção à Armênia, de acordo com as autoridades locais. As informações são da rede BBC.
Vardanyan foi líder do governo separatista de novembro de 2022 a fevereiro. Ele estava entre milhares de pessoas que tentavam deixar a região. Nas últimas semanas, cerca de 50 mil armênios étnicos já fugiram de Nagorno-Karabakh, que foi retomado pelo Azerbaijão recentemente.
Vardanyan foi detido mais de uma semana após o Azerbaijão iniciar “operações antiterroristas” em Nagorno-Karabakh e exigir a retirada incondicional e total desse território.
Há uma semana, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o ex-líder dos armênios de Nagorno-Karabakh admitiu que estava ciente de que seria um alvo das forças do Azerbaijão.
“É a vida. Se você está disposto a dar a vida pelo seu país, então tudo bem. É ruim, mas é algo para o qual você deve estar preparado ao fazer algo importante. O desfecho da história pode ser muito sombrio. E eu estava preparado para isso desde o primeiro dia”, disse ele na ocasião.
Na terça-feira (26), ao atravessarem a fronteira, milhares de armênios étnicos passaram por rigorosas verificações de segurança realizadas pelas autoridades de fronteira do Azerbaijão. Baku afirmou que estava procurando por suspeitos de “crimes de guerra“, e uma fonte ligada ao governo mencionou a intenção de conceder anistia aos combatentes armênios que abandonaram suas armas em Karabakh.
Os governos ocidentais têm pressionado o Azerbaijão para que permita a entrada de observadores internacionais em Karabakh, a fim de monitorar como a população local está sendo tratada.
Na terça-feira (26), a Alemanha se uniu a esses apelos, com a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, pedindo “transparência”. Pela rede social X, antigo Twitter, ela afirmou que permitir observadores internacionais seria um sinal de que o Azerbaijão está comprometido com a segurança e o bem-estar do povo de Nagorno-Karabakh.
Entenda a questão
Nagorno-Karabakh é um território ocupado por uma maioria armênia cristã que declarou independência do Azerbaijão, país majoritariamente muçulmano, desencadeando uma guerra que foi de 1992 a 1994. O conflito causou 30 mil mortes e desalojou centenas de milhares de pessoas, com a reivindicação de independência dos armênios não sendo reconhecida por nenhum país.
Desde 1994, o enclave vinha sendo controlado por forças que o Azerbaijão alegava incluir tropas fornecidas pela Armênia, que sempre negou ter militares por lá. Após um cessar-fogo estabelecido com a ajuda de Rússia, EUA e França, um novo conflito armado entre os dois países eclodiu em 2020 e durou 44 dias, com mais 6,5 mil mortos, aproximadamente.
Um novo acordo de paz foi firmado, este mediado pela Rússia, no início de 2021. Mas ele é visto com desconfiança pela população armênia, e um ataque do Azerbaijão em 19 de setembro de 2023 gerou o temor de que um novo conflito com a Armênia poderia se iniciar.
O Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou em comunicado que “apenas alvos militares legítimos foram destruídos” usando ataques de precisão. A Armênia, reforçando que não tinha tropas em Nagorno-Karabakh, alegou que o governo azeri “violou o cessar-fogo ao longo de toda a linha de contato, com ataques de mísseis e artilharia.”
A ação do governo Azerbaijão incluiu mísseis, artilharia e drones turcos Bayraktar para bombardear o território ocupado pelos armênios. Baku alega que reagiu a um ataque vindo das montanhas que teria matado um número não especificado de soldados azeris.
Informações divulgadas por autoridades russas, azeris e armênias indicam que mais de 200 pessoas morreram em razão da ofensiva militar que durou cerca de 24 horas. Entre as vítimas estariam civis, crianças e até dois militares da Rússia, membros das forças de paz de Moscou que atuam na área.
Se o cessar-fogo for respeitado, poderá marcar o fim de um conflito que já dura cerca de três décadas.