Armênia admite entregar territórios para evitar uma guerra com o Azerbaijão

Após a derrota militar de setembro, Yerevan terá que remarcar a fronteira entre os dois países se não quiser um novo confronto

Nikol Pashinian, primeiro-ministro da Armênia, admitiu na terça-feira (19) que seu país prepara a entrega voluntária de territórios ao Azerbaijão, com a consequente remarcação da fronteira entre os dois países. Segundo ele, a medida se faz necessária para evitar uma guerra, conforme informações divulgadas pela agência Associated Press (AP).

O líder armênio, em discurso a moradores da aldeia fronteiriça de Voskepar, na região de Tavush, afirmou que a recusa em entregar as áreas reivindicadas pelo governo azeri “significaria que uma guerra poderia estourar até o final da semana.”

A disputa diz respeito a quatro aldeias desabitadas na região de Nagorno-Karabakh, que declarou independência após uma guerra com o Azerbaijão entre 1992 e 1994, na qual 30 mil pessoas morreram e centenas de milhares foram desalojadas. A reivindicação dos separatistas cristãos armênios, no entanto, jamais foi reconhecida internacionalmente.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinian: encurralado (Foto: Divulgação/Otan)

O Azerbaijão retomou o controle de partes do enclave após uma guerra que durou seis semanas em 2020, e em setembro de 2023 derrotou definitivamente as forças separatistas armênias após uma rápida ofensiva. A vitória azeri levou mais cem mil armênios a deixarem Nagorno-Karabakh.

Como parte do acordo de paz que evitou um conflito mais amplo no ano passado, a Armênia precisa agora concordar com a delimitação da fronteira a partir de mapas de 1991 estabelecidos pela extinta União Soviética.

“Não deveríamos permitir que a guerra começasse”, disse Pashinian. “E esta é também a razão pela qual decidimos proceder à delimitação das fronteiras nestas partes da Armênia.”

A decisão do primeiro-ministro, entretanto, não foi bem recebida por seus opositores, que já o haviam criticado pela derrota militar de setembro e agora protestaram contra a entrega voluntária dos territórios.

Armênia x Rússia

A derrota militar de setembro levou a Armênia a comprar briga com a Rússia, acusada de conivência com a ofensiva do Azerbaijão. Em resposta, Yerevan anunciou, em outubro, sua adesão ao Tribunal Penal Internacional (TPI), movimento classificado como “extremamente hostil” por Moscou.

“Temos dúvidas de que, do ponto de vista das relações bilaterais, a adesão da Armênia ao Estatuto de Roma seja correta. Ainda acreditamos que é a decisão errada”, disse na oportunidade o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, de acordo com o jornal independente The Moscow Times.

Num sinal de que pretende se voltar cada vez mais ao Ocidente e abandonar de vez a Rússia, a Armênia ainda recebeu nesta semana o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que elogiou a posição pró-Ucrânia do país e prometeu apoiar sua “soberania e integridade territorial”, de acordo com o site Politico.

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