Barragens e minas de carvão com ônus ambiental entram na agenda da junta em Mianmar

Após golpe de 1º de fevereiro, junta militar de Mianmar anunciou projetos de barragem e deixou de fiscalizar minas de carvão

A operação de barragens e minas de carvão de alto impacto ambiental já integra a agenda da junta militar de Mianmar. No dia 11, o general Min Aung Hlaing anunciou que construirá a usina hidrelétrica de Hatgyi, um projeto polêmico que deve interferir na paisagem e na biodiversidade de boa parte do estado de Karen, no sul do país.

“Aqueles que se opõem ao projeto por várias razões devem compreender os benefícios”, disse ao Conselho da Administração do Estado, em registro do site de notícias indiano Scroll In.

A estrutura da barragem seria construída sobre o rio Salween – o maior de fluxo livre do sudoeste asiático. São quase 3,3 mil quilômetros do planalto tibetano até o mar de Andaman, na fronteira birmanesa com a Tailândia. Quem deve assumir a obra é uma empresa chinesa, também encarregada do projeto da estrutura de Mong Ton, no Estado de Shan.

Barragens e minas de carvão com ônus ambiental entram na agenda da junta militar de Mianmar
O general à frente da junta militar de Mianmar após o golpe de 1º de fevereiro de 2021, Min Aung Hlaing, em encontro diplomático em Moscou, Rússia, junho de 2017 (Foto: Divulgação/Vadim Savitsky)

Tanto as barragens de Hatgyi quanto Mong Ton estão ainda em fase de planejamento. Executadas, inundariam terras onde estão moradores deslocados pelo conflito no final da década de 1990. Só a estrutura de Mong Ton forçaria o deslocamento de 60 mil pessoas.

“Toda a população de Karen se opõe à barragem. A paz acabou na área agora. Se implementado, o projeto hidrelétrico fará com que o nosso povo sofra”, disse o general do Exército Budista Democrático de Karen, Saw Kyaw, à revista tailandesa “The Irrawaddy”.

A mineração de carvão abusiva também se tornou uma questão desde o golpe de 1º de fevereiro. Entidades ambientais denunciaram ao jornal “South China Morning Post”, de Hong Kong, que mineradoras têm invadido terras privadas e se valem da turbulência para explorar locais antes restritos.

“Sem nenhuma autoridade governamental prestando atenção, muito menos regulamentando, a mineração secou os mananciais locais e deixou a população com a água muito mais poluída”, disse Sai Sam, morador da cidade de Tigyit.

Deslocamento forçado e energia poluente

Para abrir uma usina de carvão há 20 anos, muitos agricultores da etnia Pao tiveram de se mudar para outras localidades. A saída, para muitos, foi transformar partes florestais em terras agrícolas. Da mesma forma que antes, em meio a uma ditadura militar, os civis não ousam se opor à ordem de recolocação.

Mianmar mantém 17 depósitos de carvão em grande escala, com recursos que ultrapassam as 500 milhões de toneladas. A maioria pertence ao tipo sub-betuminoso. Na prática, a qualidade inferior desse carvão faz com que, em combustão, alcance emissões perigosas de óxidos de enxofre e nitrogênio, dois gases altamente poluentes.

Enquanto isso, os planos hidrelétricos servem como uma saída para Mianmar lidar com o baixo acesso à eletricidade. Hoje, quase 60% da população de 54 milhões de habitantes não têm acesso à luz elétrica.

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