Beijing contesta condenação de cidadão chinês acusado de espionagem nos EUA

Xu Yanjun foi sentenciado por uma corte federal por ter supostamente roubado segredos industriais nos setores aeroespacial e de aviação

O governo da China classificou como “fabricadas” as acusações que levaram à condenação de um cidadão chinês por espionagem nos Estados Unidos. Xu Yanjun foi sentenciado na sexta-feira (5) por uma corte federal norte-americana por ter supostamente roubado segredos industriais, conforme informações do Departamento de Justiça reproduzidas pela agência Reuters.

O alvo de Xu seriam empresas dos setores aeroespacial e de aviação, com destaque para a GE Aviation, uma unidade da General Electric. As ações de espionagem teriam começado em 2013, com o uso de pseudônimos para obter informações comerciais secretas e repassá-las ao governo da China.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das relações Exteriores da China (Foto: reprodução/Twitter)

“A alegação é pura invenção”, disse nesta segunda-feira (8) o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, durante entrevista a jornalistas em Beijing. “Exigimos que os EUA tratem do caso de acordo com a lei e de forma justa para garantir os direitos e interesses do cidadão chinês”.

Embora já tenha sido julgado e condenado, Xu ainda não recebeu a sentença, que está a cargo de um juiz federal. A pena máxima de detenção é de 60 anos, além da possibilidade de receber uma multa no total de US$ 5 milhões.

Por que isso importa?

A relação entre China e EUA azedou de vez em 2020, quando o então presidente norte-americano Donald Trump sugeriu, sem evidências, que o país liderado por Xi Jinping teria criado o novo coronavírus em laboratório para prejudicar os países ocidentais, em março de 2020.

As afirmações aceleraram a disputa comercial e tecnológica entre as potências, que atingem inclusive o setor militar e refletem na relação das nações com Taiwan. Enquanto Beijing reivindica a ilha como parte de seu território, Washington atua como parceiro estratégico nos setores comercial e militar e lidera uma cruzada pela independência taiwanesa.

Em meio à guerra fria travada pelas duas superpotências está uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada estratégica: a produção de semicondutores. Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais flancos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro de 2020, aponta que a China é vulnerável nesse setor e depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

Paralelamente às questões de Taiwan e dos semicondutores, o governo dos EUA atua para distanciar ao máximo as empresas nacionais do investimento e da influência chineses. Em outubro, a inteligência norte-americana lançou um alerta sobre os riscos das relações comerciais com a China em setores estratégicos, segundo informações do jornal Valor Econômico.

De acordo com o Centro Nacional de Contraespionagem e Segurança (NCSC, na sigla em inglês), os setores de inteligência artificial, computação quântica, biotecnologia, semicondutores e sistemas autônomos são potenciais alvos de espionagem industrial e devem rejeitar os investimentos chineses ou a eventual colaboração com pesquisadores do país asiático.

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