Centenas marcham em protesto contra prisão de cidadãos canadenses na China

Michael Spavor e Michael Kovrig estão presos na China, no que o governo canadense enxerga como retaliação pela prisão de uma executiva chinesa

Um marcha com centenas de pessoas aconteceu em Ottawa, capital do Canadá, no domingo (5), em apoio a Michael Spavor e Michael Kovrig, ambos presos na China. O evento marcou o milésimo dia de detenção da dupla, cujas prisões são consideradas injustas pelo governo canadense. As informações são da rede Voice of America (VOA)

Os manifestantes caminharam 7 mil passos, exatamente o que Spavor costuma fazer em sua cela todos os dias. Eventos semelhantes foram realizados em outras partes do Canadá e em mesmo em cidades de outros países, como Bruxelas, na Bélgica, Nova York e Washington, nos Estados Unidos, e Seul, na Coreia do Sul.

“Ele anda em círculos, 7 mil passos, muitas vezes segurando um livro, lendo, recitando canções, orações. São cinco quilômetros de coragem e contemplação. E hoje ele não estará sozinho nessa caminhada. Vamos acompanhá-lo, todos nós”, disse a mulher de Kovrig, Vina Nadjibulla.

Marcha em Ottawa protesta contra as prisões dos canadenses Michael Kovrig e Michael Spavor (Foto: reprodução/twitter.com/VinaNadjibulla)

Spavor foi julgado e condenado em março deste ano, mas a sentença de 11 anos de prisão só foi divulgada no mês passado. A pena possível para o crime no qual canadense foi enquadrado era de 5 a 20 anos de prisão. Além da pena de prisão, ele terá seus bens confiscados num valor equivalente a 50 mil yuans (R$ 40,3 mil). O caso de Kovrig ainda não teve uma decisão anunciada pela Justiça chinesa.

“Essas são detenções injustas“, afirmou Nadjibulla. “Essas marchas são sobre solidariedade com nossos Michaels, são sobre honrar sua força e resiliência e também pedir ação para finalmente quebrar o impasse, trazê-los para casa e fazer todo o possível para acabar com essa injustiça”.

Quando as sentença foi anunciada, há cerca de um mês, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, classificou-a como “absolutamente inaceitável” e cobrou a imediata soltura de Spavor.

“O veredito contra Spavor vem depois de mais de dois anos e meio de detenção arbitrária, falta de transparência no processo legal e um julgamento que não satisfez nem mesmo os padrões mínimos exigidos pelo direito internacional”, disse o líder canadense à época.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que já havia se posicionado ao lado do governo canadense, reforçou sua posição no último domingo (5). “Estamos ombro a ombro com o Canadá e a comunidade internacional ao pedir que a RPC (República Popular da China) liberte, imediata e incondicionalmente, Michael Spavor e Michael Kovrig”, disse ele em um comunicado.

Por que isso importa?

A detenção de Spavor, em dezembro de 2018, ocorreu poucos dias depois de o Canadá ter prendido Meng Wanzhou, executiva da gigante chinesa da tecnologia Huawei, devido a um mandado de prisão internacional expedido pelos Estados Unidos. Ela é acusada de enganar um banco sobre o relacionamento da empresa com uma companhia do Irã sancionada pelos EUA.

Kovrig foi preso um pouco depois, acusado do mesmo crime que o compatriota, em casos que o governo canadense encara como mera retaliação pela detenção da executiva.

Há, ainda, um terceiro caso supostamente associado à complicada teia de eventos diplomáticos entre Canadá, EUA e China. É o do canadense Robert Lloyd Schellenberg, que no dia 10 de agosto teve confirmada a pena de morte por tráfico internacional de drogas. Ele é acusado de traficar cerca de 220 quilos de metanfetamina.

Nos próximos meses será decidido pela Justiça canadense se Meng será ou não extraditada para os EUA.

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