Cerca de 70% da polícia afegã é de soldados fantasmas, estima EUA

Vício em drogas entre soldados é alto no sul do país, maior celeiro de cultivo da papoula e sob mira do Taleban

Até 70% dos policiais listados no Afeganistão são, na realidade, “soldados fantasmas” – estão inscritos nos sistemas, mas não existem. A informação é de um levantamento das forças dos EUA e foi divulgado pelo portal afegão ToloNews nessa quarta (26).

Além dos soldados fantasmas, quase metade das forças policiais do sul do Afeganistão é viciada em drogas. A conclusão é de estudo da Inspetoria Geral dos Estados Unidos para a Reconstrução do Afeganistão.

O uso é comum entre a polícia das províncias de Kandahar, Zabul, Helmand e Uruzgan. O sul do Afeganistão é a região mais atacada pelo Taleban, a mais perigosa do país e concentra a produção local de papoula.

Maioria da polícia do Afeganistão é de "soldados fantasmas", aponta EUA
Policiais do Afeganistão em cerimônia de formação na capital, Cabul, em agosto de 2010 (Foto: US Army/Matt Davis)

A planta é matéria-prima para a produção de opiáceos como a heroína e o maior produto de exportação ilegal afegão. Em 2006, o UNODC (Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime) estimou que a a venda da papoula respondia por 52% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, ou cerca de US$ 2,6 bilhões.

Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2008 indicam que, na província de Helmand, foram cultivados 103 mil hectares da planta. Em segundo lugar, Kandahar, com 14 mil, seguida por Urzugan, com quase 10 mil.

A ausência de Estado no sul do país, distante da capital Cabul, serve de incentivo para o investimento nessas culturas.

Retirada de investimentos

Mais de mil policiais e funcionários do governo foram presos em 2019 por corrupção e espionagem, aponta o relatório.

O fracasso no combate a corrupção pode ser crucial ao encerramento do financiamento dos EUA às forças afegãs no futuro. De acordo com o documento, a continuidade da violência mesmo durante a pandemia afetou negativamente os esforços nessa área.

Ao ToloNews, o governo afegão afirmou que está com o relatório em mãos e que fará uma avaliação das informações. “Vamos compartilhar o que encontramos quando estiver pronto”, disse o porta-voz do Ministério do Interior, Abdul Rahman Wardak.

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