Chefe do exército de Mianmar promete “esmagar” resistência em raro discurso

Min Aung Hlaing, general responsável pelo golpe militar no país, disse que suas forças não vão parar de oprimir os opositores ao seu governo

Rodeado de tanques durante um desfile das forças armadas, o chefe do governo militar de Mianmar prometeu na segunda-feira (27) lidar com pulso firme contra o que chamou de “atos de terror” coordenados por grupos armados opositores ao regime. As informações são da rede BBC.

Min Aung Hlaing, general responsável por comandar o golpe de Estado no país do sudeste asiático há dois anos, também acusou as nações que criticam seu histórico de violações dos direitos humanos serem apoiadores do terrorismo.

Em parada que celebrou o 78º aniversário da fundação do exército nacional de Mianmar, realizada na capital, Naipidau, Hlaing fez um raro discurso. E levou uma mensagem dura: custe o que custar, o seu exército não vai parar de lutar contra aqueles que rebelam contra o seu governo.

O general ainda observou que a lei marcial está sendo aplicada de forma cada vez mais rígida em “cidades importantes” para combater “terroristas que procuram arruinar o interesse das pessoas”. A “democracia” também foi um tópico. Hlaing disse que haverá eleições e o poder será entregue ao “partido vencedor”, e convidou a comunidade internacional a se juntar a ele para conseguir isso. Não deixou claro, porém, quando isso acontecerá, considerando a guerra civil em andamento.

Min Aung Hlaing, general que lidera a junta no poder em Mianmar desde o golpe de Estado (Foto: Wikimedia Commons)

A censura e as sanções internacionais têm isolado cada vez mais Mianmar, quem mantém o apoio da China e da Rússia, cujos adidos compareceram ao desfile no fim de semana.

Beijing e Moscou, aliás, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm laços com Mianmar. A China é também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há denúncias de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses.

Isso pode ser sido visto no desfile, que mostrou que aeronaves e helicópteros chineses e russos estão a serviço das forças armadas do país. Caças russos MI35 rasgaram o céu, ao lado de aeronaves chinesas de ataque ao solo K8 e jatos FTC2000 recentemente adquiridos de Beijing. Muitas dessas armas foram usadas desde o golpe em redutos rebeldes, muitas vezes matando civis e até crianças.

As tentativas de encerrar o fornecimento de armas à junta, porém, têm falhado. Em dezembro de 2022, durante uma celebração do 75º aniversário da força aérea de Mianmar, os militares já haviam apresentado os novos caças e helicópteros de ataque comprados dos aliados.

Na sexta-feira passada, os Estados Unidos anunciaram novas sanções contra Mianmar, visando o fornecimento de combustível de aviação aos militares após ataques aéreos em áreas habitadas por civis.

Juntamente com outros países ocidentais, Washington já havia lançado sanções contra membros da junta, agências do governo militar e empresas administradas por militares, buscando restringir sua capacidade de arrecadar dinheiro.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

Tags: