China alerta: quem se opuser à reunificação com Taiwan pagará um ‘preço alto’

Aviso foi dado após Japão afirmar que exercício militar em parceria com os EUA é focado em um conflito simulado com Beijing

A embaixada de Beijing em Tóquio alertou que haverá consequências para quem atrapalhar a reunificação da China. A declaração veio enquanto os EUA e o Japão realizam exercícios militares conjuntos ao longo desta semana.

De acordo com relatos da mídia japonesa, citados pelo jornal South China Morning Post, os exercícios deste ano, conhecidos como Keen Edge, incluem simulações de conflito envolvendo a defesa de Taiwan.

Fontes governamentais não identificadas revelaram que, pela primeira vez, Washington e Tóquio designaram Beijing como “inimigo hipotético” nas manobras, que envolvem treinamento e simulações de cenários diversos para aprimorar a cooperação e a prontidão militar das forças participantes.

De acordo com o Comando Indo-Pacífico dos EUA, as Forças de Defesa da Austrália também estão envolvidas no exercício de oito dias, que terminará na quinta-feira (8). Relatos indicam que foram utilizados mapas reais e não alterados nos exercícios, quebrando uma norma anterior.

Navios da Marinha dos EUA e da Força de Autodefesa Marítima do Japão durante exercício Keen Sword, em 2020 (Foto: Official U.S. Navy Page/Flickr)

Beijing expressou “preocupações graves” a Tóquio após os relatos da mídia, enquanto o Japão negou a precisão dos detalhes do exercício descritos nos relatos, conforme comunicado da embaixada chinesa.

Em uma coletiva de imprensa realizada em 25 de janeiro, o general Yoshihide Yoshida, chefe do Estado-Maior Conjunto do Ministério da Defesa japonês, afirmou que o exercício não tinha como alvo específico nenhum país ou região, repercutiu o jornal Kyodo News.

A China vê Taiwan como parte de seu território e projeta uma reunificação pela força, se necessário.

Japão e EUA, aliados de Taiwan, não reconhecem a ilha como Estado independente, mas se opõem à mudanças no status quo do Estreito de Taiwan. Washington, inclusive, se comprometeu em fornecer armas à ilha.

Ambos os países teriam elaborado um plano preliminar para uma operação conjunta em caso de conflito em Taiwan.

A embaixada chinesa criticou o exagero da situação no Estreito de Taiwan por algumas forças japonesas e advertiu: “Ninguém deve subestimar a determinação sólida, a vontade firme e a capacidade forte do povo chinês de defender sua soberania nacional e integridade territorial”, disse a embaixada.

Problema em Taiwan é problema no Japão

Nos últimos anos, políticos japoneses têm afirmado que “uma contingência em Taiwan é uma contingência para o Japão”, indicando uma possível intervenção caso a China ataque, embora Tóquio não tenha declarado apoio explícito à defesa da ilha. Isso tem causado tensão com Beijing.

Os laços entre Beijing e Tóquio têm sido afetados por questões territoriais, pelo lançamento de água contaminada de Fukushima ao mar e por preocupações crescentes do Japão com a segurança no Estreito de Taiwan.

Espera-se que uma cúpula trilateral entre China, Japão e Coreia do Sul ocorra neste ano, com potenciais conversas entre o primeiro-ministro chinês Li Qiang e seu homólogo japonês Fumio Kishida.

Lai Ching-te, novo presidente de Taiwan, prometeu trabalhar para que a ilha mantenha a independência em relação à China e fortaleça as parcerias com democracias. O político, que saiu vitorioso da eleição realizada em janeiro, já deixou claro que não aceita as reivindicações de Beijing sobre o território semiautônomo.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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