China condena ex-funcionário público à morte por vazar segredos de Estado

Ex-funcionário de agência estatal foi condenado por divulgar informações confidenciais a serviços de inteligência estrangeiros

Em uma decisão rara, o governo chinês anunciou na quarta-feira (6) a condenação à morte de um ex-funcionário de uma agência estatal, por vazar um grande volume de informações ultrassecretas para agências de inteligência estrangeiras. As informações são da Reuters.

De acordo com um comunicado do Ministério da Segurança do Estado, o homem, identificado apenas como “Zhang” fazia parte do “núcleo de pessoal confidencial” de uma agência governamental, cujo nome não foi revelado.

Segundo o comunicado oficial, Zhang foi recrutado por agentes estrangeiros após deixar seu cargo, onde tinha acesso a um grande volume de segredos de Estado. As autoridades afirmam que ele forneceu informações sensíveis, comprometendo a segurança nacional.

O caso destaca a crescente repressão de Beijing contra atividades de espionagem em meio a um cenário de intensificação das tensões globais. A sentença de morte reflete o endurecimento das políticas chinesas em questões de segurança nacional, especialmente após a implementação da Lei de Antiespionagem, que amplia o escopo de delitos relacionados a vazamentos de informações.

Bandeiras da China em Beijing (Foto: Flickr)

As autoridades afirmam que Zhang comprometeu gravemente a segurança nacional da China ao fornecer segredos de Estado a espiões estrangeiros. Segundo o ministério, ele foi atraído para fora do país com promessas de “vivenciar novas culturas” e, uma vez no exterior, foi cooptado para atuar como agente duplo. Um espião estrangeiro, identificado apenas pelo sobrenome Li, teria pressionado Zhang a assinar um acordo de cooperação e confiscou seu pen drive de trabalho e outros pertences pessoais.

O comunicado descreveu Zhang como alguém de “caráter fraco”, incapaz de resistir à tentação do dinheiro, o que o levou a se tornar um “fantoche” manipulado e explorado pelos espiões estrangeiros.

Sob a lei antiespionagem da China, reformada em julho de 2023 para reforçar a segurança nacional, até mesmo informações comerciais podem ser consideradas “segredos de Estado”, ampliando a possibilidade de tratamento de estrangeiros como espiões pelas autoridades chinesas. Beijing e países ocidentais vêm trocando acusações de espionagem há anos, mas só recentemente começaram a revelar detalhes de casos específicos envolvendo suspeitos.

No começo deste ano, a sentença de morte com pena suspensa imposta ao escritor australiano de origem chinesa Yang Hengjun, por acusações de espionagem, gerou preocupações sobre os riscos que os estrangeiros correm em território chinês. Ele foi considerado culpado em 5 de fevereiro por um tribunal de Beijing, depois de passar cinco anos na prisão.

Yang, um ativista pró-democracia, escrevia sobre política, com foco sobretudo na China e nos Estados Unidos. É também é autor de uma série de livros de espionagem. Ele foi preso em janeiro de 2019 no aeroporto de Guangzhou, época em que vivia em Nova York.

Na China, uma sentença de morte suspensa adia a execução por dois anos e geralmente é convertida em prisão perpétua. No caso de Zhang, não houve menção de suspensão da pena.

Esforços antiespionagem

O cenário indica que a China está intensificando sua campanha contra a espionagem, como reportado pela mídia vinculada ao Partido Comunista Chinês (PCC). Durante os meses de maio e junho, houve reuniões sobre segurança nacional nas cidades de Xangai, Chongqing, Yunnan e Anhui, organizadas pelas lideranças locais do partido.

Han Jun, ex-secretário do PCC em Anhui, no leste do país, orientou a intensificação do monitoramento de big data – conjuntos de dados que podem ser analisados para revelar padrões, tendências e associações, especialmente relacionados ao comportamento humano e interações digitais – contra a espionagem. Em Chongqing, líderes concordaram em tomar medidas rigorosas para garantir a segurança política e evitar a “influência de forças hostis”.

O governo chinês também está intensificando as medidas antiespionagem nas escolas de Beijing, do ensino fundamental às universidades. Autoridades do Ministério da Segurança do Estado deram palestras sobre segurança nacional, alertando sobre os riscos das tecnologias avançadas, incluindo inteligência artificial.

A nova lei de espionagem incentiva os cidadãos a denunciarem atividades de espionagem, oferecendo prêmios significativos, com um mínimo de 100 mil yuans (cerca de R$ 78 mil) para contribuições importantes.

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