China condena sanções à Rússia e promete manter relações comerciais com a Ucrânia

Governo chinês diz que não participará das sanções a Moscou e manterá relações normais com os dois países em guerra

A China já deixou claro que pretende se manter alheia à guerra que eclodiu após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Se, por um lado, Beijing condena as sanções financeiras impostas pelos governos ocidentais a Moscou, por outro, promete manter relações comerciais normais com Kiev. As informações são do jornal South China Morning Post.

Guo Shuqing, que preside a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, disse nesta quarta-feira (2) que as relações entre a China e os dois países envolvidos no conflito não mudarão. O discurso repete o que havia dito no dia anterior Wang Wentao, ministro do Comércio chinês, segundo quem Beijing espera “promover nosso comércio normal” com ambas as nações.

Guo falou, ainda, sobre os efeitos que as sanções ocidentais impostas a Moscou terão sobre a economia chinesa. E não mostrou muita preocupação. “No geral, não achamos que terá muito impacto no futuro, já que nossa economia e finanças são muito sólidas e resilientes”, disse ele.

Presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, julho de 2018 (Foto: Wikimedia Commons)

A fim de tentar preservar ao máximo sua economia dos efeitos da guerra das consequentes sanções, a China tem se colocado a favor de uma solução diplomática para o conflito, sem condenar nem endossar a agressão russa à Ucrânia.

No que tange às sanções, porém, a posição de Beijing é claramente pró-Rússia. “A China não participará de tais sanções. Continuaremos a manter as trocas econômicas, comerciais e financeiras normais com as partes relevantes”, disse Guo.

Sanções ‘poderosas’

Na terça (1º), o presidente dos EUA, Joe Biden, voltou a prometer duras sanções à Rússia. “Estamos infligindo dor à Rússia e apoiando o povo da Ucrânia. Putin está agora isolado do mundo mais do que nunca”, disse ele. “Juntamente com nossos aliados, estamos agora aplicando poderosas sanções econômicas. Estamos cortando os maiores bancos da Rússia do sistema financeiro internacional”.

Financeiramente, Biden disse que o principal objetivo das sanções é congelar as reservas globais da Rússia, “tornando inútil o ‘fundo de guerra’ de US$ 630 bilhões de Putin”. Também disse que o Ocidente pretende impedir o acesso russo às principais tecnologias globais, a fim de enfraquecer o exército e a economia do país.

Por fim, o líder norte-americano prometeu mirar os aliados de Putin. “O Departamento de Justiça dos EUA está montando uma força-tarefa dedicada a perseguir os crimes dos oligarcas russos”, afirmou. “Estamos nos unindo aos nossos aliados europeus para encontrar e apreender seus iates, seus apartamentos de luxo e seus jatos particulares. Estamos indo atrás de seus ganhos ilegítimos”.

A União Europeia (UE), por sua vez, cortou nesta quarta (2) sete bancos russos do Swift, um sistema de pagamentos baseado na Bélgica que movimenta dinheiro entre milhares de bancos em todo o mundo. É o que se convencionou chamar de “opção nuclear” no campo das sanções financeiras.

“Na velocidade da luz, a União Europeia adotou três ondas de pesadas sanções contra o sistema financeiro da Rússia, suas indústrias de alta tecnologia e sua elite corrupta”, disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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