China critica envio de tropas por Trump e fala em colapso da democracia dos Estados Unidos

Meios estatais chineses exploram protestos em Los Angeles para atacar políticas migratórias e acusar Washington de autoritarismo

Enquanto Los Angeles enfrenta uma onda de protestos contra a política migratória do presidente dos EUA, Donald Trump, a imprensa estatal chinesa aproveita o momento para intensificar suas críticas ao governo norte-americano. Em meio ao agravamento das tensões comerciais entre os dois países, a narrativa disseminada por veículos oficiais da China retrata os distúrbios como evidência de um sistema político falido e de uma sociedade em crise. As informações são do jornal South China Morning Post, de Hong Kong

O jornal estatal Beijing Youth Daily afirmou em editorial publicado na terça-feira (10) que a política americana caminha para uma “era cada vez mais caótica e imprevisível”, colocando a culpa diretamente na administração Trump. Segundo o texto, a Casa Branca estaria promovendo soluções imediatistas para problemas estruturais, “mascarando questões profundas com medidas superficiais”.

No fim de semana, os protestos em Los Angeles ganharam força após operações do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) em diversos bairros da cidade. Em resposta, Trump ordenou o envio de dois mil integrantes da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais, medida não registrada desde 1965, por ter sido tomada sem solicitação do governador da Califórnia. A atitude reacendeu o debate sobre os limites do poder executivo e o equilíbrio entre autoridades federais e estaduais.

Polícia de Los Angeles (Foto: Chris Yarzab/WikiCommons)

Em sua cobertura, a agência estatal chinesa Xinhua destacou o “conflito agudo” entre o governo republicano em Washington e o governo democrata da Califórnia. Em editorial publicado na segunda (9), alertou que a presença militar pode gerar uma “calma temporária”, mas tende a aprofundar o abismo político entre os dois entes federativos.

O próprio governador Gavin Newsom reagiu duramente a decisão de Trump, afirmando que a medida é “um abuso escancarado de poder”. Ele disse ainda que o presidente “intencionalmente [causou] o caos, [aterrorizou] comunidades e [colocou] em risco os princípios da nossa grande democracia”.

Segundo Newsom, as ações do presidente representam “um passo inequívoco em direção ao autoritarismo”, o que motivou na segunda-feira (9) a Califórnia a abrir uma ação judicial contra Trump e o secretário de Defesa Pete Hegseth, acusando-os de violar a Constituição.

Na internet chinesa, a repercussão tem sido carregada de ironia. A frase “um lindo espetáculo na terra da liberdade” viralizou como referência sarcástica à fala da ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi sobre os protestos de 2019 em Hong Kong. Até a noite de terça, o tópico “a polícia de Los Angeles admitiu ter perdido o controle da situação” acumulava mais de 73 milhões de visualizações nas redes chinesas.

“O caos em Los Angeles expõe uma grave crise na ‘democracia ao estilo americano’”, comentou o jornal Beijing Daily, outro veículo oficial do Partido Comunista Chinês (PCC). O editorial acusa Trump de ampliar perigosamente o poder do Executivo e instrumentalizar o medo para manter apoio popular. “Governo de um país vasto exige delicadeza e visão de futuro – e Trump parece seguir o caminho oposto.”

O blogueiro nacionalista Guyanmuchan, com 7,35 milhões de seguidores, resumiu o sentimento chinês: “Que bumerangue familiar”, em alusão à comparação entre os protestos americanos e os que o país já apoiou no exterior.

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