China fala em ‘preparação para a guerra’ e atinge recorde de alistamento entre os jovens

Dezessete mil formandos do ensino médio se alistaram neste ano, conforme o desemprego nessa faixa etária atinge níveis alarmantes

Com o emprego entre os jovens em baixa e a beligerância em alta na China, servir ao Exército Popular de Libertação (ELP) tornou-se um grande negócio para os adolescentes chineses. Prova disso é que 17 mil formandos do ensino médio se alistaram neste ano, maior número desde que teve início o projeto de reformulação das forças armadas, em 2017. Um recorde que, segundo o governo, tende a melhorar a “preparação para a guerra” do país, informa o jornal South China Morning Post.

Atualmente, 27 academias militares chinesas aceitam jovens recém-graduados no ensino médio. Nelas, o alistamento aumentou bastante em 2023, com dois mil interessados a mais que no ano passado. Quase todas as vagas que estavam disponíveis foram preenchidas.

O interesse pela carreira militar cresce conforme o desemprego entre os jovens chineses, com idades entre 16 e 24 anos, atinge níveis alarmantes. A taxa 20,4% registrada em abril foi a maior desde o início de sua divulgação pelo Departamento Nacional de Estatísticas, em 2018, e desde então os números só pioraram, com 20,8% em maio e 21,3% em junho.

Em julho, diante da situação preocupante, o governo interrompeu a publicação desses dados, sinalizando os desafios que a segunda maior economia mundial enfrenta ao se recuperar dos rígidos bloqueios pandêmicos impostos pela política de “Zero Covid“.

Soldados do Exército de Libertação Popular da China (Foto: WikiCommons)

Consciente de que a procura aumentaria e disposta a modernizar cada vez mais suas forças armadas, a China já havia projetado ampliar a oferta de vagas militares, com cargos disponíveis em uma maior gama de áreas de atuação profissional.

Assim, o alistamento recorde de 2023 tende a colaborar para o desenvolvimento das forças armadas sem necessariamente ampliar o número de soldados à disposição. Segundo o Ministério da Defesa, as vagas são sobretudo centradas em ciências e engenharia, com vistas a melhorar a “preparação para a guerra” por parte da China.

O número de inscritos para a primeira fase do processo seletivo neste ano foi de 135 mil jovens, que inicialmente passaram por uma etapa de “inspeção política”. Nela, os candidatos foram filtrados a partir de critérios que incluem religião, etnia, antecedentes familiares, histórico de viagens e antecedentes criminais. Mais de 50 mil foram aprovados, chegando-se posteriormente aos 17 mil selecionados.

No processo seletivo, a China adotou em 2023 critérios menos restritos que anteriormente, de forma a aumentar as chances de um jovem ser escolhido. Por exemplo, a altura mínima e o peso exigido foram flexibilizados tanto para homens quanto para mulheres.

O alistamento recorde se enquadra no projeto do presidente  Xi Jinping, que no início do mês de agosto, às vésperas da celebração do 96º aniversário do ELP, pediu que as autoridades militares chineses impulsionem a modernização das forças armadas iniciada antes mesmo de ele assumir o poder, mas ampliada a partir de 2017 sob novas diretrizes.

Por que isso importa?

A China ostenta o segundo maior orçamento de defesa do mundo, atrás somente dos EUA. Com o dinheiro investido nas forças armadas nos últimos anos, Beijing tem hoje a maior marinha do mundo, à frente da norte-americana, o maior exército permanente do mundo e um arsenal balístico e nuclear capaz de rivalizar com qualquer outro. 

A marinha chinesa tem dois porta-aviões ativos e 360 navios, no que supera inclusive os EUA, estes com 300 embarcações militares. Já o exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, maior que o de qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,4 milhão de tropas, contra 1,35 milhão dos EUA, de acordo com o site World Atlas.

arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório recente do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.

O investimento chinês levou a uma corrida armamentista na região da Ásia-Pacífico, onde os gastos com Defesa ultrapassaram US$ 1 trilhão somente em 2021, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. Beijing puxa esses números para cima, tendo aumentado seu orçamento militar por 27 anos consecutivos, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.

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