Ilhas Salomão elegem novo premiê pró-Beijing, uma derrota parcial para o Ocidente

Jeremiah Manele tende a manter a aliança com a China, mas com uma relação menos conflituosa contra os países ocidentais

Jeremiah Manele, ex-ministro das Relações Exteriores das Ilhas Salomão, venceu as eleições parlamentares e será o novo primeiro ministro da pequena nação insular, resultado celebrado também pela China. Ele contou com 31 votos contra 18 de seu adversário, Matthew Wale, segundo a rede BBC.

A vitória de Manele tende a manter a atual posição diplomática das Ilhas Salomão, que cada vez mais se volta à aliança com a China em detrimento de antigos aliados ocidentais, sobretudo a Austrália. Essa foi a política adotada pelo atual premiê, Manasseh Sogavare, e é uma posição compartilhada por Manele, ministro das Relações Exteriores quando o país abandonou o vínculo com Taiwan e voltou-se a Beijing.

A vitória de Manele, entretanto, não é o cenário ideal para o governo chinês, que via a manutenção de Sogavare como o melhor desfecho para o processo eleitoral. Porém, ele optou por não concorrer após seu partido conquistar um resultado decepcionante na votação popular da semana passada.

Embora tenha indicado que seguirá trabalhando próximo a Beijing, o novo chefe de governo, que contou inclusive com o apoio de Sogavare, tende a adotar uma relação menos conflituosa com o Ocidente, segundo analistas citados pela BBC.

“Colocarei sempre os interesses do nosso povo e do nosso país acima de todos os outros”, disse Manele após o anúncio da vitória, destacando o processo eleitoral pacífico em meio à ebulição social recente no país.

Jeremiah Manele, novo primeiro-ministro das Ilhas Salomão (Foto: governo do Chile/WikiCommons)
Influência chinesa crescente

A China vem se aproximando cada vez mais das Ilhas Salomão e no final de março de 2022 conquistou uma importante vitória na disputa por influência com o Ocidente. Na oportunidade, firmou um acordo de segurança que acabou vazando, expondo uma carta de intenções segundo a qual Beijing estabeleceria uma base militar no país.

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP), para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos.”

Na mesma época em que a carta veio a público, Sogavare confirmou que estava prestes a assinar o acordo de segurança com a China. Na ocasião, definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Pouco depois do anúncio, Beijing afirmou que o acordo já havia sido assinado, embora não tenha especificado quando e onde ocorreu a assinatura.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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