A China está ampliando seus esforços para reverter a queda nas taxas de natalidade, incentivando os cidadãos a casarem e terem filhos em meio a uma preocupante crise demográfica. Entre as medidas adotadas estão incentivos financeiros, campanhas educacionais e até ligações diretas para mulheres casadas. As informações são do Financial Times.
A situação demográfica da China é cada vez mais preocupante. A população está diminuindo, com mortes superando nascimentos. “A população da China enfrenta três grandes tendências: envelhecimento, baixa natalidade e baixas taxas de casamento”, disse o economista Ren Zeping em entrevista recente à imprensa local.
O governo central tem prometido reduzir os custos de criação dos filhos, com subsídios e cortes de impostos. Em outubro, o Conselho de Estado anunciou planos para criar uma “sociedade amigável à natalidade” como parte de um pacote de estímulo econômico. Contudo, os detalhes dessas políticas ainda estão sendo definidos.
Enquanto isso, governos locais têm adotado estratégias diretas. Mulheres casadas na casa dos 20 e 30 anos têm recebido ligações de autoridades perguntando sobre seus planos de terem filhos. Algumas dessas abordagens incluem a oferta de benefícios financeiros, como o relato de uma moradora de Zhejiang, que afirmou que mulheres da região poderiam obter subsídios equivalentes a R$ 70 mil por um segundo filho.
Além disso, universidades foram incentivadas a criar cursos sobre amor e casamento para estudantes solteiros. Segundo uma publicação da Comissão Nacional de Saúde, as instituições devem “promover um conhecimento sistemático sobre amor e casamento” como forma de estimular relacionamentos. Uma pesquisa citada pelo texto revelou que 57% dos estudantes evitam namorar devido à carga de trabalho acadêmico.
A propaganda estatal também intensificou sua mensagem, destacando benefícios da maternidade para a saúde das mulheres. Publicações como o Diário do Povo e o Life Times têm promovido estudos que sugerem que a maternidade pode ajudar a prevenir doenças graves.
Apesar dessas iniciativas, especialistas demonstram ceticismo quanto à eficácia das medidas. Wang Feng, especialista em demografia chinesa da Universidade da Califórnia, disse que as autoridades estão “recorrendo ao mesmo manual usado durante a era da política do filho único”. Ele ressaltou, porém, que convencer famílias a terem mais filhos é muito mais difícil do que restringir nascimentos.
Para muitos jovens, as condições econômicas e sociais desestimulam a formação de famílias. “Se o governo quer aumentar a taxa de natalidade, deveria criar um ambiente mais amigável para os pais, especialmente mães solteiras”, criticou a escritora feminista Shen Yang.
A combinação de custos elevados de vida, falta de apoio social adequado e penalidades de carreira enfrentadas pelas mulheres é vista como um grande obstáculo. “As mulheres jovens de hoje, que pertencem à geração mais educada da história da China, enfrentam desafios significativos para equilibrar trabalho e família”, completou Wang.
Embora o governo não tenha restringido o acesso a métodos contraceptivos ou abortos, especialistas apontam que médicos podem evitar certos procedimentos por receio de represálias legais.
Para as autoridades chinesas, o desafio está não apenas em reverter a queda na taxa de natalidade, mas também em convencer uma geração que se sente cada vez mais desconectada dos apelos tradicionais à formação de famílias numerosas.