China prioriza seus interesses e financia aeroporto deserto em região tensa do Paquistão

Aeroporto Internacional de Gwadar custou US$ 240 milhões, segue vazio e aumentou a irritação local com a presença chinesa

Na conturbada província do Baluchistão, no Paquistão, o imponente Aeroporto Internacional de Gwadar, finalizado em outubro de 2024 após um investimento de US$ 240 milhões da China, permanece inativo. Apesar de pronto, não há previsão de quando começará a operar. A obra, que parece servir mais a interesses chineses que paquistaneses, contribui para a insatisfação da população local, situação que inclusive gerou onda de violência na região. As informações são da agência Associated Press (AP).

O especialista em relações internacionais Azeem Khalid é um que ressalta a peculiaridade envolvendo a obra. “Este aeroporto não é para o Paquistão ou Gwadar. É para a China, para garantir o acesso seguro de seus cidadãos a Gwadar e ao Baluchistão”, disse ele

O aeroporto foi construído como parte da parceria entre China e Paquistão em um megaprojeto de infraestrutura orçado em US$ 60 bilhões: o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), iniciativa chinesa para ligar Gwadar a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras rodoviárias e ferroviárias.

Aeroporto de Gwadar ainda em construção, em 2022 (Foto: WikiCommons)

No entanto, apesar da grandiosidade da obra, a cidade portuária ainda enfrenta desafios básicos, como falta de energia elétrica regular e acesso insuficiente a água potável, dependendo de importações do Irã ou de soluções como painéis solares. O acordo prevê projetos para atender às necessidades de abastecimento, mas nada disso foi adiante.

Violência separatista

A capacidade do aeroporto para 400 mil passageiros contrasta fortemente com a realidade de Gwadar, onde 90 mil pessoas lidam com a escassez de recursos básicos. Não ajuda o fato de que a região de Baluchistão, rica em recursos, mas politicamente instável, é palco de um conflito separatista de longa data.

Os balúchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região. A situação torna os chineses um alvo preferencial de grupos radicais armados, responsáveis inclusive por ataques que fizeram vítimas fatais.

O reforço da segurança em Gwadar, com o aumento do investimento chinês, incluiu um aumento de postos de controle e vigilância, mas acabou por limitar significativamente a liberdade dos residentes locais. “Antes, ninguém perguntava quem somos ou para onde vamos”, relata Khuda Bakhsh Hashim, nativo de 76 anos, saudoso dos tempos em que a comunidade desfrutava de maior privacidade e liberdade.

Os protestos que exigiam melhorias nas condições de vida locais pararam apenas após promessas de atendimento às demandas por melhores infraestruturas de eletricidade e água. Mas até agora as iniciativas não foram colocadas em prática.

A situação laboral também reflete a exclusão da população local. Os benefícios trabalhistas, como na hora em que os aviões começarem a pousar e a decolar, parecem se limitar aos chineses. “Nenhum residente de Gwadar foi contratado para trabalhar no aeroporto, nem mesmo como vigilante”, diz Abdul Ghafoor Hoth, presidente distrital do Partido Awami de Baluchistão.

Tags: