China promete policiais e equipamentos para conter protestos nas Ilhas Salomão

Alinhamento do governo com Beijing seria uma das motivações da revolta popular violenta que explodiu no mês de novembro

O governo da China anunciou que enviará agentes de polícia e equipamento de contenção de protestos às Ilhas Salomão, que no mês passado enfrentaram violentas manifestações populares reivindicando a queda do primeiro-ministro Manasseh Sogavare. O alinhamento do governo com Beijing seria uma das motivações da revolta popular. As informações são da rádio norte-americana WHBL.

Seis oficiais da polícia chinesa atuarão no treinamento das forças de segurança das Ilhas Salmoão, de acordo com o governo local. Já o equipamento de choque inclui escudos, capacetes, cassetetes e “outras engrenagens não letais que aumentarão ainda mais a capacidade de a polícia das Ilhas Salomão enfrentar ameaças futuras”, diz um comunicado do governo local.

Dezenas de prédios foram queimados no bairro de Chinatown de Honiara, a capital do país, e lojas foram saqueadas em meio à violenta manifestação popular, após Sogavare se recusar a negociar com os opositores. O premiê culpou “agentes de Taiwan” na província de Malaita pelos protestos. O país asiático, que luta pela independência da China, negou oficialmente qualquer envolvimento nos distúrbios.

Papua Nova Guiné, Nova Zelândia, Fiji e Austrália, países vizinhos, além de EUA, Índia e Japão, já haviam enviado serviços e equipamento de apoio às Ilhas Salomão, numa tentativa de conter a expansão da influência chinesa na região.

Cerca de 200 policiais e soldados da Austrália, Nova Zelândia, Fiji e Papua Nova Guiné chegaram à capital Honiara poucos dias após os distúrbios. A Austrália tem um acordo bilateral de segurança com as Ilhas Salomão, e a polícia australiana já havia sido enviada ao país em 2003 como parte de uma missão regional de manutenção da paz, tendo permanecido lá por uma década.

Motins na capital Honiara resultaram em incêndios. Três pessoas foram encontradas mortas em um prédio consumido pelas chamas (Foto: Twitter/Reprodução)

Por que isso importa?

Na opinião de analistas, a agitação salomonense tem “raízes profundas”. Entre as causas do levante popular estão questões que envolvem tensões étnicas históricas, corrupção e o movimento do governo para estreitar laços com Beijing. Há três anos, as Ilhas Salomão trocaram a aliança diplomática com Taiwan por uma com a China.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista para assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para o momento de desordem.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, por exemplo, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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