Civis, crianças e até soldados russos estão entre as vítimas de ataque do Azerbaijão

Relatos apontam que ofensiva militar contra separatistas armênios fez cerca de 200 vítimas e atingiu tropas de paz da Rússia

Informações divulgadas por autoridades russas, azeris e armênias indicam que mais de 200 pessoas morreram em razão da ofensiva militar realizada pelas forças armadas do Azerbaijão na disputada região de Nagorno-Karabakh, encerrada na quarta-feira (20). Entre as vítimas estariam civis, crianças e até militares da Rússia, membros das forças de paz de Moscou que atuam na área.

Gegham Stepanyan, ouvidor de direitos humanos da autodenominada República de Artsakh, estabelecida por grupos étnicos armênios que reivindicam a região como seu território ancestral, disse que ao menos dez civis estão entre as vítimas fatais do ataque, inclusive cinco crianças.

Foi ele também que divulgou um balanço geral de vítimas, números que ainda carecem de uma apuração independente. “Há pelo menos 200 mortos e mais de 400 feridos”, afirmou o armênio, de acordo com o site The Defense Post.

Desfile militar do exército do Azerbaijão após guerra contra a Armênia, em dezembro de 2020 (Foto: WikiCommons)

Já o governo do Azerbaijão não divulgou o número de vítimas de seu lado. Alegou apenas que reagiu a um ataque vindo das montanhas que teria matado um número não especificado de soldados azeris.

Sobre as mortes de civis, o Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou, ainda na quarta, que “apenas alvos militares legítimos foram destruídos” usando ataques de precisão, com mísseis, drones e artilharia. A Armênia, porém, nega que tivesse tropas em Nagorno-Karabakh.

Embora tenha se esquivado quanto às vítimas civis, o Azerbaijão admitiu que soldados russos foram mortos na operação e se desculpou. De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, um veículo foi atingido por armas leves quando retornava de um ponto de observação, conforme informou o jornal independente The Moscow Times.

“Como resultado do bombardeio, os militares russos que estavam no veículo foram mortos”, disse o Kremlin, acrescentando que o presidente azeri Ilham Aliyev prometeu uma “investigação mais completa sobre o incidente e que todos os responsáveis ​​serão devidamente punidos.”

Um canal do Telegram com fontes nas forças armadas de Moscou relatou duas vítimas. Um clube de veteranos da marinha russa identificou uma delas como Ivan Kovgan, vice-chefe das forças submarinas da Frota do Norte.

Cessar-fogo

Nagorno-Karabakh é um território ocupado por uma maioria armênia cristã que declarou independência do Azerbaijão, país majoritariamente muçulmano, desencadeando uma guerra que foi de 1992 a 1994. O conflito causou 30 mil mortes e desalojou centenas de milhares de pessoas, com a reivindicação de independência dos armênios não sendo reconhecida por nenhum país.

Embora os separatistas tenham se mantido na região, desde 1994 ela é controlada por forças do Azerbaijão com o apoio de tropas de paz de Moscou.

Após um cessar-fogo estabelecido com a ajuda de Rússia, EUA e França, um novo conflito armado entre os dois países eclodiu em 2020 e durou 44 dias, com mais 6,5 mil mortos, aproximadamente. Então, um novo acordo de paz foi firmado, este mediado pela Rússia, no início de 2021.

O ataque do Azerbaijão nesta semana rompeu o pacto e gerou o temor de que um novo conflito com a Armênia poderia se iniciar. Foi, entretanto, evitado por mais um cessar-fogo, com a perspectiva inclusive de que seja acordada a reintegração da região ao território do Azerbaijão, proposta majoritariamente rejeitada pela população armênia.

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