Colapso de prédio em Bangkok coloca a Nova Rota da Seda, da China, sob suspeita

Edifício foi construído com materiais de baixa qualidade por construtora chinesa inserida na iniciativa do governo Xi Jinping

A queda de um arranha-céu em construção em Bangkok reacendeu os temores sobre a segurança de projetos da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) na Tailândia. O edifício de 30 andares, parte de um empreendimento conduzido por uma estatal chinesa dentro da iniciativa internacional de infraestrutura promovida pelo presidente da China, Xi Jinping, desabou após um terremoto com epicentro a quase mil quilômetros de distância, em Mianmar. A tragédia matou ao menos 15 operários e deixou outros 72 desaparecidos, de acordo com o jornal Asian Times.

Apesar de leve impacto na capital tailandesa, foi esse o único prédio a ruir — e justamente a futura sede do Escritório de Auditoria do Estado (SAO), órgão encarregado de fiscalizar obras públicas e contratos. O episódio expôs falhas estruturais graves e gerou acusações de corrupção.

“A página do Facebook do Escritório de Auditoria do Estado ficou inacessível na quarta-feira (2 de abril), depois de receber duras críticas”, informou o site local Khaosod English.

Edifício em construção, em Bangkok, desabou após terremoto com epicentro em Mianmar (Foto: WikiCommons)

As obras estavam a cargo da China Railway No. 10 Engineering Group, vinculada à gigante estatal CREC, um dos pilares da BRI. O projeto era executado em parceria com a empresa local Italian-Thai Development (ITD), que integra grandes empreendimentos na Tailândia e em outros países da Ásia.

Duas amostras diferentes de vergalhões de aço, extraídas dos destroços, falharam em testes de qualidade realizados pelo Instituto de Ferro e Aço da Tailândia. Uma das barras trazia o nome de uma fabricante chinesa operando no país, segundo revelou o jornal Bangkok Post. Especialistas apontam que a fragilidade dos materiais contribuiu diretamente para o colapso.

Imagens divulgadas dias após o terremoto mostraram quatro cidadãos chineses carregando pilhas de documentos e fugindo do local. Eles foram detidos e liberados pela polícia, o que aumentou a pressão por transparência.

“Todos os órgãos envolvidos receberam instruções para investigar quantos outros projetos que a empresa já realizou”, declarou a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra. “Todos os edifícios em Bangkok devem atender aos padrões legais. A segurança deve ser prioridade.”

Além das mortes, o terremoto provocou impactos econômicos amplos, com mais de 30 edifícios interditados na capital e prejuízos estimados em mais de US$ 1 bilhão. Órgãos governamentais abriram novas investigações sobre pelo menos uma dúzia de projetos associados à CREC na Tailândia, incluindo obras em aeroportos e hospitais. A BRI, peça-chave da expansão chinesa na Ásia, agora enfrenta crescente desconfiança entre os tailandeses.

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